terça-feira, 23 de setembro de 2014

Da paixão


Nunca soube quem eras
o que fazias
nunca soube a quem pertencias...

nunca soube se em ti existiam
tristezas
… ou... ou alegrias

nunca soube nada do teu sorriso sonolento
se sonhavas
se eras apenas o alimento

da paixão

nunca quis saber o teu nome
se é que tens nome
um corpo
se é que tens corpo
nunca
nunca percebi o colorido dos teus lábios
nunca quis escrever-te
cartas
ou... ou pequenas palavras
de silêncio
das palavras de nada
nas palavras envergonhadas

da paixão.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 23 de Setembro de 2014

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Noite de loucura


Este pano azul cansado
deitado sobre o teu corpo
acariciando a tua pele de luar
que a madrugada fez esconder
este pano... que o piano amar acorrenta
este sofrer...
a saudade do mar
entranhada nos meus lábios,

Este pano azul...
que o silêncio consegue desenhar no teu sorriso
o morrer
sabendo que todas as flores deixaram de brincar
a tua mão vazia
como o rio que desce a montanha
a tua mão entrelaçada nas sombras da paixão
que o pano azul escreveu numa noite de loucura...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 22 de Setembro de 2014

domingo, 21 de setembro de 2014

O malfadado homem de granito


Este malfadado trânsito que não me deixa regressar à tua mão,
a chuva miudinha que invento,
e poisa nas tuas pálpebras de gaivota ensonada,
o meu corpo não anda, a noite entra em mim... assim... sem nada,
só,
este malfadado trânsito,
que alimenta a tua saudade,
e a estrada encurvada,
sem candeeiros...
sem... sem madrugada,
que a montanha engole,
que... que a montanha esmaga,

Este triste silêncio com mandíbulas de cristal,
a pequenina folha de papel sobre a secretária,
espera-me,
espera-me sem perceber que eu não tenho paciência para ela,
enerva-me,
ela e as palavras,
estas palavras,
… que o sono constrói só para me atormentar,

Este malfadado trânsito... infernal,
que da longínqua insónia multiplica o cansaço pela solidão,
subtrai os teus pincelados seios ao amanhecer...
e fico... e fico com as estrelas de papel que tens suspensas nos teus cabelos,
sinto dentro deste corpo vagabundo,
o rio com odor a embriagados sábados...
não sei o significado da paixão,
nem do imundo colorido sorriso do amor,
não sei... não quero saber,
porque caem as árvores mais belas do meu jardim,
porque choram as rosas mais belas do meu jardim...
este malfadado trânsito... é um sofrimento sem fim.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 21 de Setembro de 2014