sábado, 21 de junho de 2014

Qual é a cor do seu silêncio!


Diga-me Senhora, qual é a cor do seu perfume!
Que odor é este, que sabor tem na sua boca,
a lume, ciume,
diga-me Senhora,
de que sanzala é oriunda,
e louca,
que loucura habita no seu olhar,
será ternura?
Será... será o verbo amar...
Ai minha Senhora,
que cansaço desenhar nos seus lábios a mandíbula adormecida,
tão linda, tão... tão querida,

Diga-me Senhora, qual é a cor do seu silêncio!

Que palavras são estas que vagueiam no seu corpo desnudo,
que seios são esses, de algodão, que se transformam em poesia,
quando da noite vem o homem mudo,
e se veste de alegria,

Diga-me Senhora, qual é a cor do seu silêncio!

Ai Senhora, como são lindos os seus beijos,
como são belas as suas coxas de madrugada,
minha Senhora, diga-me... diga-me como é viver no seu peito...
porque eu, eu não tenho jeito...
porque eu, eu sou uma jangada,
perdido nos Oceanos desejos,

Diga-me Senhora, qual é a cor do seu silêncio!

Que tempestade é esta, que força me puxa para os seus braços...
diga-me, diga-me por favor...
diga-me como são os seus anseios, e se existe em si uma janela por abrir,
diga-me Senhora, diga-me quem é o usufrutuário do seu amor,
e de que cor,
e o odor,
dos seus abraços,
… em... em flor.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 21 de Junho de 2014

A desenhadora de rugas

Envelheces-me,
desenhas rugas nas minhas pálpebras envernizadas,
dizes que o meu corpo, dizes que o meu corpo é uma jangada apodrecida,
à deriva, como as gaivotas apaixonadas,
como as madrugadas,
também elas, tal como eu, envelhecidas,
tristes...
e... e cansadas.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 21 de Junho de 2014

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Faltam-me as palavras de amar


Quem sou?
Faltam-me as palavras para definir este cansaço sem pernas, este cansaço sem boca, este cansaço sem poemas,

As tuas mãos ardem, tracejando o meu corpo em lâminas de suor,
há um desejo escondido nos teus lábios de cerâmica adormecida,
há uma tempestade no teu cabelo, um rio vagabundo correndo nas tuas veias,
as tuas mãos alicerçam-se ao papel solitário, aquele... aquele que espera pela minha caligrafia,
um papel amarrotado, com odor a cidade, com... com alergia,

Que vida é esta, quando em mim facas de granito brincam como andorinhas,
quando em mim papagaios com olhos verdes se entrelaçam nos meus pulsos sangrentos,
e há um círculo no teu peito, um círculo cinzento, um círculo de espuma...
onde vive o prazer, de onde se alimenta a minha dor,
a dor... a dor de escrever,

Quem sou?
Faltam-me as palavras para definir este cansaço sem pernas, este cansaço sem boca, este cansaço sem poemas,

Serei um poema que vagueia nos teus seios?
Uma cama,
um espelho de uma velha cómoda encostada à lareira...

Faltam-me as palavras,
as minhas, as tuas palavras doiradas,
faltam-me os cinzeiros de estanho, onde deixo durante a noite os meus sonhos...
tu, tu embrulhada no luar,
faltam-me... faltam-me as palavras de amar.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 20 de Junho de 2014