quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A cobra negra

foto de: A&M ART and Photos

A cobra negra invade o corpo de trapos da bailarina,
uma espessa sombra de néon adormece nos cabelos tristes do palhaço de vidro,
a cobra pertence-me, é-me fiel como foram os arbustos das sílabas de carvão,
uma espessa, sombra, noite mergulhada nos candelabros braços de marfim,
a cobra pertence-me como se fossem palavras de solidão entre os lábios da saudade,
a loucura espreita no peitoril abandonado da minha velha janela de zinco,
minto, sinto o corpo dele clarear os infinitos confins dos espigueiros do medo,
penas, árvores, cadeados em confronto com todos os livros da cidade,
e a cobra,
a cobra sabe, que a falsidade, inventa-se, como as flores de papel dentro dos cortinados de veludo,
como os corações apaixonados desenhados no tronco de um apodrecido barco de brincar...
e sei, e sinto... sinto que amanhã uma cinzenta avenida crescerá na minha mão,

e
e chamá-la-ão de mar, amar, a um barco de brincar.


@Francisco Luís Fontinha
Quinta-feira, 13 de Fevereiro de 2014

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Janela de esqueletos

foto de: A&M ART and Photos

Parecemos esplanadas de vento correndo nos algerozes das montanhas abandonadas,
penso se não existirá dentro de nós a melancolia dos barcos apodrecidos, como ossos molhados, como corpos cansados, como eu, e como tu, dois ventres desventrados, amorfos, humildes como sanzalas de granito, vadios...
parecemos dois loucos escondidos na sombra da madrugada ainda não nascida,
perdidos nas palavras ainda por escrever...
olhamos as estrelas que deixaram de brilhar,
comemos o pão como quem come a sombra de uma árvore...
indolor, infestados de giz depois do recreio escolar,
tu, e eu, debaixo de um busto sem nome,

Correndo, brincando... enganando a fome...
correndo, correndo calçada abaixo, até que acordava o dia, até que da tua bocas eu sentia a tristeza dos perdidos calendários de Fevereiro,
o medo,
o medo das clandestinas vozes da escuridão,
e no entanto,
sem o sabermos,
inventávamos estórias de adormecer,
sem o sabermos... estávamos mortos numa janela de esqueletos.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 12 de Fevereiro de 2014