terça-feira, 2 de outubro de 2012

O amor desencontrado


Será o amor
um texto
um poema sem sentido
desorganizado
perdido
achado
o amor desencontrado

será o amor uma canção sem palavras
um destino infinito mergulhado na solidão das noites sem livros
quando o sono teimosamente voa sobre as árvores desempregadas
procurando nas calçadas da cidade as gotas de suor que o outono deixa cair nas ardósias da madrugada

será o amor
um texto
um poema sem sentido

achado
desencontrado
desesperadas

o amor das pessoas tristes que vagueiam nas roseiras do jardim da tristeza
vem do cansaço
o perfume do papel
um texto
um poema sem sentido

será o amor
um mendigo
ou será o amor
um desejo sem abrigo
sentido
achado
cansado
perdido

perdidamente apaixonado.

(poema não revisto)

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Maré de Outubro


Oiço-te as palavras amargas
saltitando dentro de um cubo gelatinoso
ao vidro vêm as sílabas dos suspiros da manhã
às páginas em pétalas adormecidas
é no cansaço da vida que acorda a maré de Outubro
e os pilares de aço que sustentam as arcadas imaginárias dos barcos
dormem
tombam nos jardins cobertos de nuvens

peço às gaivotas que me deixem caminhar sobre o manto vertical de espuma
em cristais de iodo e sorrisos de silício

papeis dispersos nas ruas desenhadas nos lábios da cidade
em compasso
dormem
tombam nos jardins cobertos de nuvens

as tuas mãos de Primavera.

(poema não revisto)

domingo, 30 de setembro de 2012

Não existe louco amor no Oceano da solidão

Não existe,
elevam-se na infinita tarde de Outono as mãos da Primavera, a viagem invisível do cais recheado de sombras e socalcos de suor não termina nunca, e o telegrama da morte enrola-se nas oliveiras misturadas em aventuras e palavras sem destino,

- ai o que eu sofro, oiço-o constantemente como se o galo falante da vizinha se transformasse nele, e ele sem perceber que na noite da aldeia vagueiam roseiras embrulhadas em versos de amor, o amor começa a evaporar-se e uma azul garrafa de espumante absorve-o, alimenta-se dele, com borbulhas encarnadas,

deixou de existir o mar onde me escondi numa manhã de Setembro, e mergulhei até fingir que a vida é uma mera confusão de nomes e mulheres sobre as mesas do bar suspenso nas teias de aranha do silêncio, não existe a maré de Agosto, não existe

- ai o que eu sofro,

as margaridas de papel e os crisântemos, não existem barcos como antigamente que rompiam a solidão na esperança de regressarem dos prometidos sonhos e subiam as escadas da infância até ao sótão da escola primária onde brincava a ardósia com sorrisos infestados de cintilantes pálpebras abraçadas às finíssimas asas de vento que sobre o rio sem nome desapareciam, orgulhosamente distante, ouvia-o, eu, só

- ai...

ouvia-o nos suspiros húmidos do corpo almofadado, do céu desciam cordas e algumas frases sem nexo, as cordas construídas pelos gemidos gritavam e ordenavam aos pássaros assassinos que matassem todos os livros da aldeia, os poemas morrem de tédio e não existe

- ai o que eu sofro,

não existe amor que sobreviva ao Oceano da solidão,

- sinto-o quando abro a janela de incenso e um profundo olhar sobre o mar que deixou de existir numa manhã de Setembro diz-me que as abelhas odeiam os meus desenhos, e um profundo olhar sobre o mar que deixou de existir numa manhã de Setembro diz-me que as rosas com perfume artificial odeiam os meus poemas e textos, e oiço-o na loucura do prazer a alicerçar o terraço da aldeia às sílabas transparentes,

não existe louco amor no Oceano da solidão, e todos os barcos do céu voam como todos os pássaros da terra navegam nas águas da tristeza, e as noites parecem o inferno enfeitado com plumas e pulseiras de marfim, enfim, amanhã, transparentes todas as ruas da cidade,

- ai o que eu sofro, e deixei de o ouvir.

(texto de ficção não revisto)