quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

THE SEA



Tudo começou quando me ofereceram este livro THE SEA – Project manager and edotorial director “Valeria Manferto de Fabianis” WHITER STAR PUBLISHERS, em Lisboa a 9 de maio de 2004,

O mar,

Adosinda vestida de caravela alisava o vento com os lábios e ao fundo do corredor a janela com vista para o tejo depois de inúmeros arbustos e árvores e crianças e flores e o fim do cais,
O jardim de Belém emagrecia e chorava num sábado mergulhado em despedidas e promessas de regresso e promessas de ausência,
O mar enrodilhava-se nas mãos finas de Adosinda vestida de caravela e o mar começava a desaparecer pelas sombras das árvores que pacientemente esperavam o almoço e enquanto o almoço não acordava, as árvores Desenhavam caravelas iguais a Adosinda sobre as folhas de papel que vagueavam na planície inventada, Adosinda sorria e acenava com a mãozinha, nos olhos viviam estrelas de marfim e silícios de espuma, e o mar,
- Confesso que fiquei sem palavras ao ler esta estória Oiço a minha voz nas frestas da parede depois de poisar a caneta sobre a secretária, e pergunto-me porquê?, Adosinda só conheci a minha tia rabugenta e que de vez em quando me dava cinco escudos, e o mar há muito deixei de o ver e sentir e cheirar, agora folheio The Sea e o mar entra-me dentro do corpo, e nunca vi caravelas e de Belém apenas recordo uma noite de setembro quando eu criança regressava de Luanda e junto ao padrão dos descobrimentos um magala fumava cigarros e sorria como um louco para as gaivotas suspensas no teto da casa de banho,
E nos olhos o mar, e nos olhos os cinco escudos que um miúdo pegava religiosamente e descendo a rua em passo acelerado os cambiava por cromos na papelaria grifo,
- Que estória tão parva para um sábado em Belém, e é como lhe digo De Belém apenas quando regressei de Luanda e lembro-me como se fosse hoje eu pendurado na grade e ver Belém a adormecer e o magala a fumar cigarros,
Adosinda vestida de caravela alisava o vento com os lábios e ao fundo do corredor a janela com vista para o tejo depois de inúmeros arbustos e árvores e crianças e flores e o fim do cais,
- O velho grifo pegava-me na mão e embebia-me de rimas, o João comeu arroz com feijão e mais o mão, agora Adosinda só conheci a minha tia e que de quando a quando me dava cinco escudos, Acredite em mim nunca estive em Belém em 1988 nem em 2004 e o mar, e o mar depois de regressar de Luanda só quando folheio o The sea,
Em despedidas e promessas de regresso e promessas de ausência que entre os fios de cinza de um cigarro desapareceu para sempre,
- E é verdade é o que eu lhe digo Nunca estive num sábado em Belém dia 9 de Maio de 2004, Claro que não esteve porque dia 9 de maio foi um domingo, Vê? Vê como eu tinha razão,
- Que estória tão parva para um domingo em Belém, e é como lhe digo De Belém apenas quando regressei de Luanda e lembro-me como se fosse hoje eu pendurado na grade e ver Belém a adormecer e o magala a fumar cigarros,
O mar enrodilhava-se nas mãos finas de Adosinda vestida de caravela e o mar começava a desaparecer pelas sombras das árvores que pacientemente esperavam o almoço e enquanto o almoço não acordava Adosinda com olhos de marfim ou de estrelas ou de noite,
- Chorava,
E que não, e que nunca estive em Belém nesse dia.

(Texto de ficção)

Rio vadio

As nuvens adoram-me
Desejam-me
As nuvens que poisam na minha cabeça
E me cobrem
E me escondem debaixo dos candeeiros da manhã
Desejam-me
E cobrem-me
As nuvens pintadas de negro
Junto a um rio descolorido
Sem estrelas
Sem dezembro para sonhar
As nuvens que poisam na minha cabeça

E me escutam
E me olham
E desejam

Sem dezembro para sonhar
Tenho as nuvens negras
Junto a um rio descolorido
Vadio
Sonâmbulo amarrotado nos canaviais
Me cobrem e olham e desejam e se fundem nas minhas mãos

As nuvens que poisam na minha cabeça.

59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

Jardim dos beijos

Oiço as tuas lágrimas antes de adormecer
Poisadas silenciosamente sobre o meu peito
Oiço a noite a crescer
Quando o mar sem jeito

Quando o mar me entra pela janela
E se deita no teu corpo de poema
Oiço a noite a crescer nos lábios de um barco à vela
No vento da minha cama

Oiço a noite nos teus olhos em palavras de sofrer
Rasgando-te em desejos
Oiço a noite a crescer

Quando o mar sem jeito galga a minha mão
E no jardim dos beijos
O teu amor acorda o meu coração.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011


59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

Flores parvas

Todas as flores são parvas
E parvas são as minhas palavras
Quando comidas por abelhas gananciosas
Depois do almoço

Das flores parvas
Nascem as minhas palavras parvas
Que um parvalhão
Semeia na ardósia junto à ribeira

E eu
E eu sou tão parvo como as flores parvas
Porque semeio as minhas palavras
Porque sou eu o parvalhão
Sentado numa pedra
A olhar as flores parvas e as abelhas gananciosas

A comerem as minhas palavras
Que substituíram por pão
Depois do almoço

Malditas flores parvas
Que comem as minhas palavras
Parvas
Que eu semeei na ardósia junto à ribeira

59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

Prisão

Roubaram-me o sorriso
E acorrentaram-me à solidão
Fizeram das ruas um corredor sem juízo
E das janelas um sonho sem coração

Roubaram-me o mar
E as palavras que tinha para escrever
Fizeram das ruas um cemitério sem luar

Fizeram das ruas uma noite para esquecer
Roubaram-me o amanhecer
E a vontade de amar

Roubaram-me o sorriso
E acorrentaram-me à solidão
Fizeram das ruas um corredor sem juízo
E das janelas uma prisão

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A janela do meu olhar

Estou triste
Muito triste
E ninguém para me ouvir
Ninguém e ninguém para me abraçar
Estou triste
Muito triste
Sinto-me um pedacinho de merda
Que toda a gente passa sem pisar
E toda a gente e toda a gente tem medo de tocar
Estou triste
Muito triste
E nem o vento e nem o mar entram pela janela do meu olhar…