quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O cubo de vidro

No centro da galáxia
As tuas mãos prisioneiras no infinito
Um orgasmo curvilíneo
Dorme dentro de um cubo de vidro
E as tuas mãos acariciam-no
E às tuas mãos regressa a luz

Que à velocidade de trezentos mil quilómetros por segundo
Evapora-se do cachimbo de Einstein
Os uis e os ais do orgasmo curvilíneo
Que fogem do cubo de vidro
No centro da galáxia
Descem

Descem e escapam-se
Escapam-se por um buraco de minhoca
E acordam sobre o silêncio do mar
Onde os teus seios de malmequer
Esperam pelas tuas mãos
Prisioneiras no infinito

Estará o criador dentro do buraco de minhoca?
E se o criador não passar de uma complexa equação matemática
Que dentro do buraco de minhoca
Brinca com os uis e os ais do orgasmo curvilíneo
Que fugiram do cubo de vidro
No centro da galáxia?

No centro da galáxia
As tuas mãos prisioneiras no infinito
Um orgasmo curvilíneo
Dorme dentro de um cubo de vidro
E do buraco de minhoca
Vêm até mim as espátulas da noite recheadas de cereja e morango…

Cerro todas as luzes
E fecho todas as portas
E todas as janelas
Sento-me sobre o cubo de vido
No centro da galáxia
E conto as carícias do vento que poisam no meu peito

59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

Cigarro amarrotado

Noite
Um silencioso odor
Suspenso num cigarro amarrotado
Nos lábios de uma sombra

Na noite
Descem grãos de esperma
De árvores invisíveis
E os pássaros imaginários

(Noite
Um silêncio odor
Suspenso num cigarro amarrotado)
E os pássaros imaginários
Dançam nos seios da noite
Até mergulharem no púbis das estrelas

Noite
E o mar
E o menino vestido de mulher
Que corre no silencioso odor
Suspenso num cigarro amarrotado
Até que a morte os separe

Até que a morte poise sobre a mesinha de cabeceira
Abra silenciosamente o odor de um livro
Suspenso num cigarro amarrotado
Nos lábios de uma sombra
E a morte sorri ao menino
Vestido de mulher

Os cigarros em desejo – Poema de Luís Fontinha

Wordsong (AL Berto).
Wordsong é um projeto multimédia de Pedro d´Orey (Mler If Dada), Alexandre Cortez (Rádio Macau), Nuno Grácio e Filipe Valentim (Rádio Macau).

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O dia de me perguntar


Música - Orquestra Skomorokhi de São Petersburgo
Poema e Desenho - Luís Fontinha

84,1 x 59,4 (desenho de Luís Fontinha)

59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

O dia de me perguntar

Amar-te-ei quando os silêncios dos céus
Cessarem dentro da espuma enraivecida do mar
Pergunto-me

Amar-te-ei
Pergunto-me quando entro no espelho da manhã
E observo o meu rosto transformado em finíssimos fios de luz
Que se abraçam a uma gaivota em cio
O sol desfaz-se em grãos de nada
E eu pergunto-me se amar-te-ei

Quando cessarem dentro da espuma do mar
Os silêncios dos céus

E se o mar deixar de ser mar
E se os finíssimos fios de luz do meu rosto
Transformarem-se em xisto pregado aos socalcos do douro…
E se a manhã nunca mais for a manhã
E se a manhã deixar de ser um espelho
E se a manhã eternamente a porta de um cubículo

Sem janelas viradas para o mar
Pergunto-me se amar-te-ei
Quando um dia acordar
E o meu corpo deixar de ser corpo
E todas as flores serem desejos
E todos os corpos pêndulos de orgasmos junto ao rio

Pergunto-me se amar-te-ei
Pergunto-me
Amar-te-ei quando os silêncios dos céus
Cessarem dentro da espuma enraivecida do mar
Não sei
Se chegarei ao dia de me perguntar

59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)