terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O dia de me perguntar

Amar-te-ei quando os silêncios dos céus
Cessarem dentro da espuma enraivecida do mar
Pergunto-me

Amar-te-ei
Pergunto-me quando entro no espelho da manhã
E observo o meu rosto transformado em finíssimos fios de luz
Que se abraçam a uma gaivota em cio
O sol desfaz-se em grãos de nada
E eu pergunto-me se amar-te-ei

Quando cessarem dentro da espuma do mar
Os silêncios dos céus

E se o mar deixar de ser mar
E se os finíssimos fios de luz do meu rosto
Transformarem-se em xisto pregado aos socalcos do douro…
E se a manhã nunca mais for a manhã
E se a manhã deixar de ser um espelho
E se a manhã eternamente a porta de um cubículo

Sem janelas viradas para o mar
Pergunto-me se amar-te-ei
Quando um dia acordar
E o meu corpo deixar de ser corpo
E todas as flores serem desejos
E todos os corpos pêndulos de orgasmos junto ao rio

Pergunto-me se amar-te-ei
Pergunto-me
Amar-te-ei quando os silêncios dos céus
Cessarem dentro da espuma enraivecida do mar
Não sei
Se chegarei ao dia de me perguntar

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