quarta-feira, 11 de setembro de 2024

 

na luz dos teus olhos

flui um barco à vela, deita-se a saudade sobre o apeadeiro do sono, depois

uma algazarra de homens verdes, adivinha

onde se escondem as labaredas do seio maternal, quando a uma esquina de luz,

penteia-se

aquele que transporta na algibeira,

o silêncio.

 

podia ser já dia

no teu cabelo,

que eu não me importava…

 

podia ser já noite

depois desta noite,

que eu até

gostava,

e adorava.

 

na luz dos teus olhos

flui um barco à vela, deita-se a saudade sobre o apeadeiro do sono, depois

 

depois acredito que uma nuvem pincelada de desejo, desça à minha mão, começa o dia

daqui a pouco,

e do pouco que tem o dia,

 

é apenas um barco à vela, quando a luz dos teus olhos

é a madrugada sem saber que brevemente,

é dia.

Que brevemente

É nada.

 

Já pensou o leitor(a) como será depois da morte?

Como será o paraíso? Um T3 com vista para o mar, um pedaço de terra com uma mesa e três cadeiras? Terá o paraíso mulheres e vinho, como diria

O baixinho

Dos baixos países.

 

Mas eu não sou desses. Não. Não acredito em nada

Depois,

De.

Digamos que entramos em putrefacção

E ficamos

Por aí.

Depois, depois somos recordados por alguns, outros, nem recordados são,

E ficamos por aqui.

 

É o FIM.

 

E um dia tive a

Ousadia,

De no final de um teste de história

Escrever,

FIM.

O professor Morais, por quem tenho muita estima, a seguir ao meu FIM

Escreveu;

FIM da brincadeira,

Princípio do estudo.

 

Nada mais

Do que isto.

A câmara escura do medo

 

Deixar fluir o silêncio

dentro da câmara escura do medo

cerrar as janelas com os cortinados de solidão

e das paredes pendurados corações

sonâmbulos os homens

quando vão para a guerra do amor

moribundas palavras de cansaço

das tardes tuas mãos em cetim

comboios de esperma

as tuas simples palavras de ausência

debaixo do mar

a sandália de infinitos perfumes de rosa purpura

 

deixar de acreditar no velho mar

e fluir o silêncio

das palavras em delírio desejo

 

o medo das sombras

tuas mãos em cetim semeiam na aurora crepuscular

o medo

das paredes prensadas em papel e cartão e carne teu peito

das amoras com açúcar e leite

das paredes prensadas

os cones de cinza com o sabor a incenso

onde ninguém te conhece

ou deseja

ou espera antes de terminar o dia

numa cama de pensão

no sótão da insónia

 

(deixar de acreditar no velho mar

e fluir o silêncio

das palavras em delírio desejo).

Não sei quem és

 

desenho de Luís Fontinha.


Não sei quem és

se pedra

luz

ou nada,

 

não sei quem és

se prata

ouro

ou fachada,

 

não sei quem és

se poesia

palavras

ou a madrugada,

 

não sei quem és

se pedra

prata

luz

ouro

poesia

palavras

não sei quem és sombra da calçada.

desistir de encontrar o mar

 

desistir

deixar tudo em suspenso

e partir

 

desistir

e partir

e não regressar

 

desistir

 

desistir de encontrar o mar.

 

Se a noite me quer tanto, porque não me leva para uma outra noite, para outro mar, outro lugar.

Distante, o corpo parece uma jangada, verga-se em frente às rochas,

Se a noite me levar, que seja hoje

 

Que seja logo. Junto à noite.

Se a noite me quer, se a noite me levar, que leve também o dia, a tarde, e os fins de tarde,

Com este livro, na mão.

 

Se a noite me quer e me dá insónia, que seja hoje, a viagem, sem regresso

 

Que seja tarde no dia, que seja uma hora digna de dormir, de te abraçar,

As estrelas mergulhadas no silêncio, da noite, que me quer levar.

Se a noite me quer.

Eu irei, para onde ela quiser,

Mesmo que seja longe do mar.