quarta-feira, 11 de setembro de 2024

A câmara escura do medo

 

Deixar fluir o silêncio

dentro da câmara escura do medo

cerrar as janelas com os cortinados de solidão

e das paredes pendurados corações

sonâmbulos os homens

quando vão para a guerra do amor

moribundas palavras de cansaço

das tardes tuas mãos em cetim

comboios de esperma

as tuas simples palavras de ausência

debaixo do mar

a sandália de infinitos perfumes de rosa purpura

 

deixar de acreditar no velho mar

e fluir o silêncio

das palavras em delírio desejo

 

o medo das sombras

tuas mãos em cetim semeiam na aurora crepuscular

o medo

das paredes prensadas em papel e cartão e carne teu peito

das amoras com açúcar e leite

das paredes prensadas

os cones de cinza com o sabor a incenso

onde ninguém te conhece

ou deseja

ou espera antes de terminar o dia

numa cama de pensão

no sótão da insónia

 

(deixar de acreditar no velho mar

e fluir o silêncio

das palavras em delírio desejo).

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