quarta-feira, 21 de agosto de 2024

A paixão dos pássaros

 

Os pássaros também amam.

Os pássaros choram, os pássaros escrevem poemas às suas amadas,

 

Do teu oiro loiro cabelo

Uma sinfonia de imagens, de fotografias,

Uma simples alegria, uma só lágrima por dia,

No teu loiro oiro cabelo, as matrizes da noite

Transpostas na inversa,

E o teu oiro loiro cabelo,

À minha mão minguante, este desejo de o acariciar,

 

Este beijo

De o desejar,

Os pássaros ficam tristes, quando amam, quando estão apaixonados,

 

Não sabia, meu amor, que tinhas estrelas nos olhos,

Pedrinhas na cabeça,

Não sabia, meu amor, que as tuas mãos são um rio,

São os lábios do desejo.

 

Os passaram também beijam.

Não sabia, meu amor, que a cidade é uma constante da vida,

É uma maneira estranha de vida,

Em sentir o mar a aproximar-se e não fugir e nem pedir auxilio aos pássaros apaixonados,

 

Morro-me e não me mato.

 

Tens um gato

Presumo,

Todas as loiras de oiro cabelo

Têm um gato,

Ou uma gata,

E algumas até vivem num bairro de lata.

 

Os pássaros também amam.

Os pássaros choram, os pássaros escrevem poemas às suas amadas,

 

Finto o tempo que não me dá noite

Nem o sono

Nem o alento

Que finto também o vento,

 

De amar-te no teu oiro loiro cabelo.

terça-feira, 20 de agosto de 2024

 


A cidade fervilha de tesão angustia misericordiosa do silêncio.

A multidão em fúria migratória, erguem-se das sepulturas as almas desconexas, e convexas,

Deste tempo de ninguém.

Pára o relógio. Acorda a sílaba vaginal no púbis primaveril, o metropolitano em direcção ao teu corpo, fura-o, deseja-se e entranha-se nele, como se ele fosse uma serpente abraçada à floresta. Temos árvores, hoje para o almoço.

 

A cidade pinta-se de azul, teus lábios veneno, cicuta de quando os mordes, e me mordes com pequenas dentadinhas e sorrisos…

Esta cidade será eternamente o meu esconderijo. É a cidade das putas, e dos travestis, um rio que fode cada cacilheiro que se entranha nele, e troca a ponte pelo pôr-do-sol.

 

Espero-te, hoje.

a noite é a lua dos teus lábios

 


aqui, começa a noite, e aqui te espero

aqui percebo, que a noite é a lua dos teus lábios

que é veneno

na timidez do desejo.

 

aqui, começa a noite, e aqui fico suspenso

na lâmina de espuma que separa o teu corpo

da minha mão.

 

aqui, aqui começa a noite, e aqui te espero

e aqui te procuro que me pertence

esta noite

da noite tua noite.

 

aqui, aqui começa o universo

aqui começa a noite

que se inventa na madrugada

que te procura

e quer.

um pouco de arte


 

 


 

(à Cristina)

sentava-me em todas as marés do meu relógio, a mão que afugentava a noite era apenas uma sílaba de sono,

quando se esquecia de acordar,

e eu sabia que do outro lado da rua,

uma vírgula fugia do poema.

eu sentia-me perdido.

procurava na algibeira um nome,

um nome que me servisse e servisse aqueles que me apedrejam,

sem nunca saberem, porque choravam as acácias da minha infância. o mar.

melodia escrita na pele do teu corpo, fico em ti, mergulho a minha mão no teu seio, e toda a galáxia parece dormir,

enquanto respiras,

enquanto te olho; nua.

 

amo-te.