Sabes,
mãe?
Diz,
meu querido filho…
Os
pássaros, os pássaros querem levar-te!
A
mim?
Porquê?
Não
o sei, mãe…
Não
o sei.
Lembras-te,
quando construías papagaios em papel para brincarmos debaixo das mangueiras, em
Luanda?
E
tu deliravas…
Brincávamos
às escondidas e tu escondias-te na sombra das bananeiras, ficavas invisível,
como hoje, invisível para mim,
Cerras
os olhos, pintas nas paredes da insónia o nome do teu querido filho, sempre à
espera de regressar ao Mussulo, lembras-te, mãe?
Tão
branca e fina a areia…
Olha,
Sim
filhos!
As
bananeiras estão crescidas, lindas como tu…
Sabes
meu filho? Sim mãe!
Tenho
saudades das brincadeiras que fazíamos quando tu menino,
O
triciclo em madeira a chilrear quintal a fora, o pôr-do-sol junto ao mar, os
barcos que tu tanto amavas, escrevias poemas nas âncoras da saudade, agora,
agora pareces um esqueleto gritando em voz alta…
Vão
embora pássaros!
Sim
mãe, agora preocupo-me com estes malditos pássaros que te perseguem e te querem
tirar de mim,
Mas
mãe!
Sim,
meu filho!
Nunca.
Nunca vou deixar que os pássaros te levem.
Vila
pouca de aguiar, 15 de Setembro de 2019
Francisco
Luís Fontinha