terça-feira, 18 de agosto de 2015

Cais dos náufragos imaginários


Voltarei

Um dia

A este porto de náufragos imaginários,

Venderam os ossos à escuridão

Trocaram a alegria pela tristeza…

E parecem tão felizes como eu,

Desenho-os na minha mão

Enquanto lá fora

Lágrimas em papel caiem sobre a calçada íngreme da solidão,

Sofro

E tenho medo da paixão,

Voltarei

Um dia

A este porto de náufragos encalhados na fina insónia do corpo,

Saberei porque durmo nesta cama de água salgada…

Saberei porque vivo nesta roldana enferrujada pelas nuvens da manhã,

Ao acordar,

Não estás,

Pertences aos ventos do Tejo…

Entre um beijo de despedida

E petroleiros acorrentados aos jardins de Belém,

Voltarei

Um dia

E este porto…


Sem ninguém,

Voltarei

Um dia

Sem saber o significado de regressar aos teus braços,

Esqueci o odor do teu perfume,

Esqueci a fúria do teu ciúme…

E esqueci a janela do teu olhar

Diluída numa folha amarrotada pelas montanhas da saudade…

Voltarei

Um dia

A este porto de náufragos...

Sem remetente,

Ausente de ti.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 18 de Agosto de 2015

Francisco Luís Fontinha​ / Agosto-2015