sábado, 8 de março de 2014

Mulher em fúria

foto de: A&M ART and Photos

Tocavas-me e eu sentia-te fervilhar nas minhas veias dilatadas,
embrulhavas-te nos meu seios de xisto como ventos desgovernados,
frívolos e cansados,
ouvias-me em pedacinhos gemidos... e ficava no cortinado, impregnado, um pequeno... um pequeno AI... sem sentido,
as sílabas estonteantes vagueavam no tecto da paixão,
cessavas-me as carícias e eu mais parecia um veleiro à espera do pôr-do-sol do que uma mulher em desejo,
depois... depois vinham as andorinhas, sorriam-nos os botões de rosa...e... e anoitecia em nós o amor das palavras,
tínhamos medo das estrelas,
e dos longínquos cadeados do silêncio sobre as nossas pálpebras de cogumelo,
acordavam as alegres melodias poéticas que vinham a nós em nuvens, pequenas abelhas... e anoitecia em nós o amor das palavras,
tocavas-me e eu sentia, queria... dizer-te que sou apenas uma mulher em fúria, uma mulher como os as mãos das amoreiras em flor... à tua espera.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 8 de Março de 2014

sexta-feira, 7 de março de 2014

O fluorescente cansaço

foto de: A&M ART and Photos

O fluorescente cansaço do abismo embainhado,
às vezes, é um penhasco enamorado,
às vezes, transforma-se em vértice, equação, às vezes grita... não.
O fluorescente cansaço padece de um imaginário número complexo,
uma paixão sem sucesso...
às vezes, despe-se,
e às vezes..., e às vezes não parece,
mas... não passa de um triste cubículo sem nexo,
vive fingindo sonhar,
e dorme... dorme fingindo escrever poemas de “nada”,
às vezes chora, e às vezes é a madrugada,
mas o fluorescente cansaço... é um amor sem solução.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 7 de Março de 2014

quarta-feira, 5 de março de 2014

Palavras de ontem

foto de: A&M ART and Photos

Hoje, hoje apareceram em ti as palavras de ontem,
aquelas que deixámos sobre as amoreiras, aquelas que transvestimos na noite em colarinhos de prata,
não, não eram as estrelas com sabor a chocolate adormecido,
eram páginas límpidas, páginas desejadas pela mão da madrugada,
hoje, nada, hoje não aconteceu nada em mim,
nem vi o mar, nem estive sentado na montanha,
hoje... hoje apenas percebi o perfume do rio,
selvagem, longínquo... um rio morto,
hoje, hoje apareceram de ti as pálpebras minhas, cansadas... tristes, desamadas,
como as tuas palavras,
palavras desinteressadas,
palavras... palavras parvas.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 5 de Março de 2014