sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Meninas de trapos

foto de: A&M ART and Photos

Perdidamente só dentro das quatro colunas imaginárias de granito envergonhado,
habito no medo pelo medo, de... medo do medo, com medo, não sabendo que sou um transeunte desgovernado,
vivo e desabito a vida de ser sem o ser,
não percebo porque voam os corpos com asas de papel saudade,
inventando Oceanos de algodão nos lábios das meninas de trapos,
bonecas com sabor a infância e que trazem nos olhos a esperança...
esperança de... não terem esperança porque a esperança deixou de fumegar na lareira do desejo,
morreu o Amor e morreram todos os poemas de Amor,
morreram os homem da caneta de tinta permanente,
tenho uma na minha mão (de José António Tenente),
cansado de mim e das tuas palavras com sabor a argila negra,
permanente só, só... só dento do meu eu...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 28 de Fevereiro de 2014

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

As tuas mãos gélidas

Foto de: A&M ART and Photos

(aos meus pais que fazem hoje 49 anos de casados)


As tuas mãos gélidas nas minhas pálpebras de insónia,
oiço-te sorrir junto ao tanque da agonia,
ao longe os gemidos trémulos do sino da Igreja...
percebo que nos teus olhos habitam lágrimas de papel colorido,
e sobre os teus ombros,
o peso,
o peso imensurável das sombras do abismo,
o peso... o peso da saudade saboreando as nuvens de algodão da madrugada,

As tuas mãos são como pedaços de barro esquecido na parede da solidão,
há em ti cabelos perdidos e alguns silêncios intransponíveis, ocultos... mórbidos,
há dentro de ti o cansaço,
o triste cansaço da vida,
e das tuas mãos as doces carícias do amanhecer,
há uma janela com palavras de acordar...
e palavras de acordar nos cortinados que cobrem as tuas mãos gélidas,
as tuas mãos de mim, as tuas mãos de uma sanzala enrolada em capim...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 27 de Fevereiro de 2014

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

(imagem tua estampada no rosto inverso do vidro...)

foto de: A&M ART and Photos

A imagem tua estampada no rosto inverso do vidro
vêem-se de ti os cabelos da madrugada trigonométrica procurando senos e cossenos
e dentro do círculo trigonométrico
os teus tristes lábios em três quartos de pi radianos
a imagem acorda em ti e cansa-se do silêncio transferidor
e as lágrimas envergonhadas como pedras fundeadas na ribeira do Adeus
desaparecem ao amanhecer
tenho medo confesso-lhe
e ela desesperadamente
desenha-me na ardósia manhã como beijos tangenciais ao quadrado do Amor
o rio flui até encostar-se à fórmula fundamental da trigonometria...
e percebo que o seno ao quadrado de alfa mais o cosseno ao quadrado de alfa é igual à unidade... a (imagem tua estampada no rosto inverso do vidro...)

Imagino-te nua sem saberes que no espelho encarnado vivem gaivotas veleiros
e pernaltas petroleiros

A imagem tua estampada no rosto inverso do vidro
a equação da Saudade desfaz-se em pedacinhos papeis...
que voam em direcção ao infinito onde se abraçam rectas paralelas e ventos circunflexos
corpos incandescentes ardem como ângulos adormecidos
há lareiras em desejo na janela da noite
quando os versos transformam-se em sanduíches de nada
e do nada
a tua imagem sem saber que as integrais triplas são amantes dos cossenos hiperbólicos...
a matriz transposta invade o púbis da matriz inversa
choras...
dormes... como uma criança deitada na equação diferencial da paixão
e a tua imagem... e a tua imagem esconde-se na lixeira do inferno.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 26 de Fevereiro de 2014