sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Alienado coração de gelo

foto de: A&M ART and Photos

O absorto corpo teu imaginado pela louca espuma do mar,
há no silêncio pardas palavras e sons melódicos, ou tristes... há no silêncio os poéticos sonhos da ejaculação precoce,
o absorto corpo que mergulha na minha mão, não existe, não chora... e não grita,
o silêncio reparte-se sobre as pedras calçadas do abismo...
e o salário do poeta bebe-se nas almofadas coloridas que as nocturnas noites deixam sobre a pele...,
sei,
o absorver-te enquanto uma varanda balança na tempestade madrugada que da boca saciada acorda quando os electrões da cidade correm em direcção aos rochedos teus abraços,
sei, agora..., sei que as tuas janelas são tão frágeis como as finas folhas em papel onde invento desenhos sem palavras, as descoloridas manhãs, os cortinados doentes que deixam o sorriso do Sol atravessar a negrume sílaba da canção da saudade,
sei que te queixas do alienado coração de gelo,
das nuvens com olhos envernizados,
dos tapumes que não te deixam observar o meu corpo... o absorto corpo teu imaginado pela louca espuma do mar...


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 31 de Janeiro de 2014
Poema de Francisco Luís Fontinha em destaque no Sapo Angola: Blogue Cachimbo de Água.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Gaguez tempestuosa

foto de: A&M ART and Photos

Engasgo-me nas palavras tuas das comestíveis ausentes marés do Inferno,
oiço o telintar da janela em fervor, depois, as pétalas cinzentas desgovernam o leme da tempestade,
a saudade existe?
pergunto-te se me ouves quando adormeço nos teus finos ombros de colmo... e sinto na tua pele o desejo indesejado do sofrimento,
o cansaço da tua voz,
o vento da nuvem de gelatina que sobrevoa a tua triste cama,
oiço...
finjo pertencer aos cadáveres invisíveis como esqueletos fotográficos em fina prata,
o livro de ti como eu, ambos esquecidos no oitavo andar das árvores de copa gaguez...
engasgo-me nas palavras, fumo os cigarros embebidos em alfinetes de pura lã virgem,
e...
e dizem-me que do outro lado da rua, uma criança brinca, passeia... pega na rosa dos teus lábios,
sente-se o beijo,
sente-se a tua mão pasmada sobre o silêncio da alvorada,
e do nu teu corpo,
e do... e do nu teu corpo alguns ossos desistem de sonhar...
e tu,
tu acreditas na saudade, no Inverno, e tu... acreditas nas sandálias de corda... e tu...
… e tu dizes-me...
- Amanhã, num pedaço de papel, deixo-te a minha dor.



@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2014