sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Os gemidos da paixão


Linda
a paixão de cartão
enrolada no dedo tua mão,

De pétala
há pétala silenciosa sinfonia que o amor constrói
nas nuvens encostadas às árvores de papel,

Aos cansaços
linda
a paixão
tua pele
teus lábios
coração de mel
nos cortinados do amanhecer
enrolada no dedo tua mão,

Perco-me em ti
e dentro de ti
até encontrar o mar
o mar meu amor a paixão de cartão
enrolada no dedo tua mão,

(Linda
a paixão de cartão
enrolada no dedo tua mão)

Lindas
as folhas do teu corpo onde escrevo as palavras de amar
Lindo
meu amor
o desejo infinito que a luz desenha nos teus lábios
e pinta
no púbis tua mão
o dedo da paixão
a feliz paixão de cartão
quando recolhe a noite
aos aposentos da solidão
e ingenuamente geme em ti o coração da paixão...

(poema não revisto)

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Os jardins com flores de mármore


Digo-o porque assisti ao romper desmesurável das mãos entrelaçadas nas lanças de aço que profundamente entram no coração doirado do velho com óculos, oiço-lhe os gemidos cansados dos alforges doces sargaços que o mar desencontra nas tardes de solidão, digo-o e oiço-o, e às vezes apressadamente contra o muro da paixão, nunca soube, ele, que me tinha apaixonado e loucamente caminhava no arame que atravessava a rua deserta de palavras, ficticiamente adornada com oiro e cinza de olhos encarnados que os mendigos construíam com as migalhas de vidro, gostava dele, muito dele, digo-o enquanto lá fora chove, e a luz silenciosa da morte alicerça-se nas palavras escritas na ardósia extinta da infância,

não me ouvirás mais, doce pergaminho dos dias acorrentados aos negros e pasmados buracos que a noite transpira, digo-o, oiço-o, pensando que amanhã me sentarei no teu colo infinitamente débil dos versos traduzidos e semeados nas searas longínquas da saudade, e um dia perceberei que as estrelas são de papel, e as nuvens, no entanto, hoje, são de lágrimas janelas que a maldita cidade esconde nos jardins com flores de mármore, porque assisti ao romper desmesurável das mãos entrelaçadas de aço que profundamente entraram no teu coração de vidro frágil como a água dos rios antes de encontrarem o oceano,

gosto tanto de ti,

digo-o, oiço-te, loucamente percebias as minhas palavras, loucamente davas alegria às minhas loucuras clandestinas nas areias finas do Mussulo, gosto tanto de ti, e os meus machimbombos continuarão a saltitar de paragem em parem, de berma em berma, e de candeeiro em candeeiro, a morte desce do tecto da madrugada, cai sobriamente nas algibeiras das montras doiradas onde um louco vende poemas e sonhos, e inventa a amizade, e inventa a saudade, e as flores e as pedras e os socalcos,

gosto tanto de ti,

e os socalcos desaparecem nas fresta do velho NOGUEIRA, escrevo-te, hoje, como se amanhã todos os rostos de uma cidade perdida na escuridão fossem alegremente as palavras dos teus medos, anseios, e no entanto, no entanto, hoje, são de lágrimas janelas que a maldita cidade esconde nos jardins com flores de mármore,

gosto tanto de ti,

digo-o, oiço-o.

(texto não revisto)

Francisco Luís Fontinha
15-11-2012

A boca em silêncios de pedras loiras


Uma chuva de pedras loiras
sobre as sombras cansadas dos invisíveis olhares da noite
vais partir em direcção ao nada
manhã desgovernada
cansada triste a paixão das palavras tontas
na tua doce mão,

cansada chuva de pedras loiras
em direcção ao nada
madrugada dos pincéis alimentados pelos desenhos dos espelhos coloridos
perdidamente apaixonados
dentro do cubo de vidro
onde adormecem os teus olhos meus,

uma chuva
longa
tonta
deserta
na tua doce mão
a boca em silêncios de pedras loiras.

(poema não revisto)

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A noite de ninguém


À via láctea da saudade
aporta a dor indesejada das veias mergulhadas na insónia
das palavras semeadas nas avenidas
ruas desertas
cansadas
das meninas
sem janelas para as andorinhas do silêncio eterno
quando dorme a cidade na tua mão de marinheiro sem porto nem barco nem destino,

sem dinheiro
à via láctea da saudade
a viagem para a outra distante margem
funda
imunda
nos cigarros inventados pelo louco jardineiro do amanhecer
quando dorme
sem janelas,

e sonha com o mar de pérolas desenhadas na areia
funda
imunda
a saudade
na partida
quando cessa o regresso
e todas as árvores
e todas as árvores tombam sobre a noite de ninguém...

(poema não revisto)

Em destaque - Cachimbo de Água


terça-feira, 13 de novembro de 2012

O muro da paixão


Escrevo-me na parede transparente dos teus lábios
silenciosamente cansados das palavras suspensas na janela da saudade
ouvem-se os murmúrios dos albatrozes
e a saliva do texto nu sobre a cama de cinzento vidro
a cidade fervilha nas distantes árvores de papel invisível
escrevo-me
na parede
dos teus lábios
transparente a noite que absorve os nossos corpos e tortura-os
nos gemidos dos sexos deitados no poema
escrevo-me
escrevo-me sempre que oiço a tua voz,

ao cair a noite sobre nós
descem da cidade
transeuntes apressadamente fingindo a felicidade
nas ardósias da tarde
oiço-me quando o espelho de chocolate
derrete nas tuas mãos incisivas
ao cair a noite dentro do quarto
sexta-feira abro-te e escrevo-me na saliva do texto
palavra por palavra
uivo entre os outros muitos uivos
das perdizes alienadas pelo cansaço da aldeia
escrevo-me nas tuas coxas que o homem da guitarra desenhou no muro da paixão,

escrevo-me
escrevo-me no gelo circunflexo do amor
às janelas de longe terminam o cais das sandálias de couro
ou os barcos no regresso a casa
em abraços
e pouca coisa nas mãos indefesas nefastas oleadas pelas marés dos rochedos
que a tua boca engole quando me aproximo da madrugada
escrevo-me no mar
e nas paredes da solidão
crescem as rosas vermelhas
de olhos verdes com luzinhas cintilantes nas pálpebras de aço
que o homem da guitarra desenhou no muro da paixão...

(poema não revisto)

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Falso amanhecer


O dissilábico falso amanhecer
à mão de papel
que a noite desencanta
uma rua deserta
pura
alimenta as fissuras de um coração
aos parêntesis desenhados nos teus olhos roubados pela noite
longe dos oceanos
barcos engasgados no purpuro cabelo do vento
a alma do falso amanhecer
à mão transversal das paredes do destino
deus na janela do prazer

e alicerça-se em ti a saudade
como as palavras
como os desenhos invisíveis que a noite come no veneno do teu sofrimento
pura
alimenta
as fissuras de um coração com sal e pimenta

coitado de mim tão frágil dentro dos lençóis da insónia
pura
a alicerça-se
como o poema
dentro de um quarto com fotografias de corsários
e piratas
governando
não governar
as vaginais cansadas madrugadas abraçadas ao infinito
desiludidas canções de engate
o Rossio sentado em mim
e sinto-me uma gaivota perdida nas mamas do dissilábico falso amanhecer

hoje não é sábado
e a livraria está encerrada
o bar paralelepípedo do desejo olha o Tejo
saltita entre as aranhas da cidade adentro
um longínquo gemido atravessa a parede da paixão
hoje não é sábado
e a livraria está encerrada
a farmácia dos sonhos
com os livros de sexta-feira na algibeira do domingo saudável
desgraçadamente
não é sábado
e nunca acordarão os extintos medos dos teus braços de mel.

(poema não revisto)

Em destaque - Cachimbo de Água