Os homens sonoros, que de casa em casa, que, que de
jardim em jardim, arbitrariamente prendiam as inocentes palavras que
um louco com asas de vidro e olheiras gelatinosas, escrevia nas
paredes transparentes dos pilares de areia, morreram, desapareceram
nas veias lilases das pétalas em flor, morreram, evadiram-se com
éguas em cio correndo sobre o verdejante pasto, húmido, sombrio, os
homens, sonoros, que de casa a casa, porta a porta, impingiam rádios
a pilhas, lanternas pornográficas, revistas com gajas nuas, que ele
vendia num quiosque junto à rotunda das margaridas (flor)
envenenadas pelo tesão da chuva esfomeada
Comprávamos três revistas, religiosamente
encerradas dentro de um saco plástico, por vinte e cinco escudos,
Da chuva esfomeada vêm-se as estrelas de prata que
cobrem o tecto da aldeia com sabor a laranja de S. Mamede de Ribatua,
laranja saborosa, conhecida mundialmente, bonita, a moça, da chuva
Dávamos-lhe os vinte e cinco escudos com direitos
adquiridos, uma voltinha às revistas, e posteriormente
Revendidas separadamente, aprendi que comprando um
maço de cigarros e vender os cigarros a avulso podia ganhar alguns
escudos, não muitos, alguns, economia paralela, entre os carris do
comboio com destino a Santa Apolónia, e derretiam-se os corações
de açúcar quando olhávamos o Tejo vestido de pérola-mármore à
porta do Texas em Cais do Sodré,
Até,
Até que...
( )
(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó