E não sabíamos que tinhas nos olhos
Uma lágrima de luz
Quando o teu cabelo voava
sobre o mar
Depois de morrerem todas
as gaivotas
E não sabíamos que nas
tuas mãos
Habitavam silêncios de
dor
Travestidos de luar.
E não sabíamos quando
vinha da montanha
A solidão empunhando uma
enxada
Depois sentava-se ao teu
lado
Até que as flores do teu
peito
Murchavam.
E não sabíamos porque os
espelhos
Da caverna onde te
escondias
Dormiam durante o dia;
Porque da noite
Erguiam-se as sombras
envenenadas
Pela solidão absorvida nas
tuas palavras
Gemias.
Gritavas silêncios de dor
Como gritam as crianças
quando acordam
Nos seios de sua mãe. E não
sabíamos
Que dentro de ti, à
meia-noite, um rio de luz
Descia o teu corpo…
E não sabíamos que hoje
Vives neste meu corpo
despedaçado
Enquanto uma pedra de
ninguém
Flutua sobre a cidade;
Porque nunca soubemos
O que é a despedida.
Alijó, 28/07/2022
Francisco Luís Fontinha