foto de: A&M ART and Photos
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Um corpo de açúcar que se derrete com a
luminosidade das palavras, um corpo de estrelas voando sobre a
Primavera das gaivotas cansadas, um corpo, belo, esbelto, poético,
um corpo de açúcar com um olhar nocturno caminhando junto ao cais
das esmeraldas adormecidas, um corpo em açúcar, desejando ancorar
às amarras do silêncio...
Saboreavas as amêndoas escritas no chocolate da
manhã, lias os poemas inventados e que em pedacinhos de sombreados
papeis, apareciam no teu café, mexia-lo, e com a colher de prata,
retiravas-los, e colocavas-los na borda do pires com floreados
tristes, tristes, tão tristes, como as lâmpadas das árvores sem
rosto, quando o olhar se esconde dentro do xisto, galgando socalcos,
até caírem no rio,
Trazias contigo um lápis de espuma com que
escrevias no teu corpo de açúcar as bolas de sabão que uma alegre
criança lançava no vento de pétalas amarelas, brincavas nos olhos
das gaivotas cansadas, gritavas sonoros gemidos de sílabas perdidas
sobre a mesa-de-cabeceira onde poisava um livro com muitas folhas,
sem palavras, muitas folhas desprovidas de vida, sem desenhos, sem
gemidos, sem uivos, um livro como o teu corpo de açúcar, por
vezes... recheado de incenso, por vezes triste, triste como os
floreados teus seios, como tristes, triste as tuas mãos saboreando
as uvas embalsamadas pela sombra do Douro, curvilíneo o teu desejo,
em pequenos círculos de oiro, ias inventando o prazer da leitura,
construías abraços com pequenas lágrimas das velhas videiras,
adormecidas, embebidas no suor do teu corpo
De açúcar?
Empastelados corações ofegantes como canções de
amar, sítios dispersos, algibeiras envenenadas pelos míseros
cêntimos de um dia de trabalho,
Açúcar?
De, pensava eu,
Mas veio o vento, levou-te, misturou-te com a água
que batia nas vidraças de pano, cortinados de papel chorando a tua
partida, o espelho, esse, deixou de redesenhar o teu corpo em açúcar,
e como uma criança, subiste as escadas do castelo de areia, onde
habitas e te escondes, e vives... como uma
Não
Como uma pequena esfera do tamanho de uma cereja, os
teus lábios saciavam-se com os fluidos das abelhas com asas de
borboleta, e diziam-se na tua rua
Ela, tão bela, e de açúcar,
E de areia, onde habitas, no teu castelo junto às
rochas dos petroleiros..., e, e ela, tão bela, e de açúcar, ela.
(Não Revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó