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quarta-feira, 10 de abril de 2024

Abstracto buraco, aos ouvidos do mar

(à fã número um deste blogue…!)

Sítio

abstracto buraco, aos ouvidos do mar, percebe-se que amo

amo qualquer coisa estranha, mundana, indefinida pelo tempo.

Mísera flor quando dança no rosto da abelha o exemplar momento de amar; Moisés, perde-se de amores por qualquer coisa, estranha.

 

Estranha será a manhã, será um pedaço de pão com manteiga, sítio, poderia ser de pedra, mas quis Deus que o abraço fosse de mar.

O mar.

O amar.

O sítio teu cabelo que me diz que dentro do meu coração apenas existe um pequeno fundo de maneio, composto por algumas palavras, outras palavras, o mar, o amar, quando a lua se senta sobre o sol, quando os pássaros escrevem na areia;

Amo-te.

 

Outro sítio de onde venho e de onde trago,

mínguas manhãs que transportam nos braços, maçãs, fruta de engano

este sítio onde habito,

neste sítio onde me afogo. A pedra é comida pelas formigas comunistas obrigadas a plantar cardos sobre o mar; amei a flor do teu cabelo, hoje.

 

Amei este cardo, odeio este mar, semeado sobre ele a tristeza, nunca acreditei, e agora acredito, que amei uma pedra, uma pedra tão bela, que as manhãs são papoilas junto ao rio. GREVE.

Mútua equação são os teus seios…

 

 

(Francisco

10/04/2024)

Um coitado em silêncios beijos

As avenidas da solidão

que desço depois do pequeno-almoço

olho-me quando entram em mim as flores do Inverno

e as tempestades que a noite putrificou dentro das esquinas complexas minhas mãos

olho-me

sentado

inerte

morto

um coitado

que passeia na tarde os murmúrios em ácidos cansaços beijos

ele descobre que o amor vive na escuridão das palavras

derretidas no açúcar invisível dos relógios de pulso.

 

Silêncios beijos

os teus

sobre a impune geada das terras áridas transmontanas

a lareira morre na insónia tua boca

os desejos longínquos suspensos no tecto do prazer

prometendo números de circo

debaixo das árvores abandonadas pelas desertas esplanadas da madrugada

olho-me

sentado

inerte

morto

um coitado,

 

e não tens vergonha dos meus lábios de algodão

semeados na planície ínfima que a vida constrói

em cordões de sémen quando os vãos de escada descem às catacumbas dos sexos

magoados nas cansadas flores do Inverno

as estrelas

as flores

o inferno

vêm dos distantes cais dos barcos de papel

silêncios beijos

os teus

os nossos corpos em decomposição

amam-se e desejam-se e no húmido pergaminho se transformam em poema.

 

(Francisco)

terça-feira, 9 de abril de 2024

Poço das estórias

O corpo é uma voz que habita dentro do poço das estórias

são memórias, são espinhos que no coração de uma pedra

brincam, e morrem

como pássaros ao meio-dia.

O corpo ergue-se veloz

até ao céu até à

morte

que brevemente vem. O corpo tomba na sifilítica tarde mais parecendo um amontoado de cortinados,

desgovernados em direcção ao meu caixão; sou agora feliz porque estou morto. Amo e sou amado!

 

O corpo é um arado, é uma enxada que se crava na rocha, e ilumina o sol de púrpura maçã embriagada pela insónia. O corpo suga a água do rio, assobia

como pássaros à procura de sexo, à procura de confusão

no meio da rua, no centro da cidade, pertinho da lua.

 

O corpo é voz quebrada, que dentro do poço das estórias escreve os primeiros capítulos da infância: escuta, tenho aqui dois pedacinhos de chocolate para ti!

O corpo sofre. O corpo voa. O corpo nada sabe de poesia, de literatura ou de amar ou de chorar

o corpo emagrece,

e fica fino como um fio.

e fica furioso como um rio

Com lágrimas de pôr-do-sol…

E se ele acordar,

digam-lhe que o corpo é uma lápide de vergonha,

é um barco na eira,

o corpo é a luz daquela triste ribeira

que um dia vai dormir ao mar.

 

(Francisco)

entre parêntesis

o peso do corpo

quando o corpo se ausenta da realidade

a morte vulcânica do sentido proibido da vida

os tristes pássaros empoleirados nas avenidas sem destino

a lucidez do alpendre da solidão

caminhando calçada abaixo

os ossos

o pó dos ossos

manchado nos camuflados risos da manhã

ao teu lado

oiço amo-te

ao teu lado

oiço-te desejo-te

mas a madrugada roubou-nos o desejo

tenho uma estrada abandonada

nos abismos da madrugada

o silêncio enraizado na melancolia do suor teu corpo

a alegria

sentindo a solidão dos obscenos corpos de nata

há-de viver em mim a mulher desenhada nos espiões da noite

o amanhecer morre no ínfimo acreditar da noite

tenho sono

meu amor

amanhã viverei no teu corpo

amanhã sentirei o teu corpo

fatias finas

papel amargurado

nas algibeiras dos corpos suicidados

a morte

os amigos da morte

na ambição do sonífero sonolento

hesito

morro

neste barco de sentinelas amordaçadas

o tempo

sempre ausente de ti

enigmático coração de vidro

sofro

deixo-me sofrer pelos teus lábios

os beijos

o comboio em direcção ao nada

transeuntes acabrunhados

que só o vento desenlaça na porta de uma casa de alterne

o medo da morte

a embriaguez dos rostos maltratados

que os livros comem ao pequeno-almoço

são horas de partir

meu amor

a ausência do cachimbo oco que habita a minha mão

a ausência do olhar

correndo em redor do mar

a cerveja quente o uísque alicerçado às minhas costas

fumam

comem cigarros livros de papel fumado

a noite é um corrupio sonolento da alma

amei-te

quebrado nas montanhas da solidão

este magro corpo acordado do sono

este magro sono acordado no magro corpo

gosto de ti

dos teus olhos vestidos de noite

entre parêntesis

snob

sono da alegria de morrer

 

 

(Francisco)

Não sei como te dizer

Não sei como te dizer, o que te dizer, sabendo eu que nada te posso dizer. Não sei

como apelidar esta tela, turbulenta e escura, cinzenta e pura

como te dizer,

nada te dizer.

 

Não sei como te dizer, dizer-te que tenho um beijo para

te dar,

e tenho medo de o fazer

medo deste mar.

 

Não sei como te dizer, o que te dizer, sabendo eu que nada te

posso dizer

o que te dizer,

que o meu amar é um pedaço de terra,

é um socalco que pincela o rio,

Não sei como te dizer,

O que te dizer.

 

Dizer-te.

 

(Francisco)

A cidade proibida

Caminho sobre a cidade em construção

deito-me na ponte do desejo

e acaricio os prédios em ruínas

as ruas de sílaba em sílaba

debaixo das árvores de papel

a cidade

a caminho do infinito

na desordem de acordar

 

E frio

nas sílabas de sílabas das sílabas

da tua boca engasgada nas palavras proibidas

e frio do silêncio das flores de cetim

em busca de um abraço

à procura de um beijo

 

A caminhar

sobre o vento em construção

a cidade

a cidade invisível à janela da tua boca

e frio

nas sílabas

em flores de cetim

a cidade proibida

 

(Francisco)

as sílabas do teu olhar

amar-te

dentro das palavras

que me roubam as sílabas do teu olhar

amar-te

sem saber como o dizer

ou escrever

amar-te

dentro das palavras

e ouvir da tua voz

os silêncios do amanhecer

 

(Francisco)

Caravelas

Regressam as caravelas aos teus lábios cidade adormecida

na madrugada fundeada nas amarras do silêncio

há nas tuas poucas palavras

palavras

encantos

que fazem sorrir as caravelas.

 

Regressam a ti de longe as minhas mãos guiadas pelo vento

dos suspiros que fingem espelhos de ternura

há nas tuas palavras

palavras

dor

amargura.

 

(Francisco)

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Coisa estranha

Tanta falta me fazes

tanto me fazes em meu viver

tanta falta me fazes

enquanto procuro as flores do teu cabelo.

 

Tanta falta me fazes

em meu escrever

em meu ter

no meu ler…

não tendo eu nada para te escrever…

tanta falta me fazes

que não sei como viver.

 

Tanta falta me fazes

Quando a noite é uma coisa estranha

Que se entranha

No meu coração

Tanta falta me faz

A falta da tua mão.

 

 

(08/04/2024)

Azuis lábios

Azuis lábios

em mar de incenso

azuis nuvens de areia

suspensas no silêncio

azuis

azuis moinhos de vento

quando brincam na alvorada

azuis os amores de Primavera

em finíssimos cristais de seda

azuis lábios

beijos que constroem

manhãs em desejo

 

(Francisco)

Branqui luz

Quero no teu corpo cor de branqui luz

escrever o mais belo poema de amor,

começo por falar do mar

e das pedras onde te sentas,

dos livros que adormeceram nas tuas mãos

os pincéis da tinta,

as telas,

as pedras que pisas ao caminhar…

Falo do teu sorriso que me encanta

do teu olhar que me faz sonhar

falo dos rios que correm

das ribeiras que correm para os rios,

e… que acabam por adormecer no mar.

Quero no teu corpo cor de branqui luz

escrever o mais belo poema de amor,

com melodia e movimento

como água fresca

que banha o teu corpo,

aproveitar cada pedacinho

e nunca, nunca te magoar,

pegar no teu cabelo que me encanta

e enrolar os meus dedos,

como se fossem algas, nenúfares…

Cansar-me de tanto escrever

e adormecer no teu peito,

embriagar-me nas tuas coxas,

quero no teu corpo cor de branqui luz

escrever o mais belo poema de amor,

sem medo

e pronto para tudo te dar,

querer que tu me queiras amar

e que me digas baixinho, ao meu ouvido,

no silêncio da madrugada orvalhada

infinito que nos aproxima,

quero que me digas que me amas

que sou o teu mar

a tua alegria,

quero que tu sejas a mulher mais importante do universo,

superior a Deus…

Quero no teu corpo cor de branqui luz

escrever o mais belo poema de amor…

 

(Francisco)


Tempo

 

Não tenho tempo
Nem pressa que regresse o tempo
Não tenho pressa do tempo
Tão pouco que as palavras do tempo
Morram nas mãos do vento
Sem tempo.

Não tenho pressa
Nem tempo antes da pressa
Que no poema nasça e cresça
O delírio da loucura
Que entre tempos
O de ontem
E o de amanhã
Me venham dizer
Olhe… desculpe…
Não tivemos tempo
Não tenha o senhor pressa!

E se o tempo me convidar
Se eu tiver tempo
E não tiver pressa…
Talvez
Talvez amanhã consiga respirar
Talvez amanhã eu tenha tempo
Todo o tempo
O tempo de te amar.

 

(Francisco)

A tua mão

Enquanto tudo arde,

Sento-me e pego na tua mão,

Enquanto a noite cai sobre ti

Semeio as minhas palavras no teu corpo,

Ergo a voz a Deus,

E percebo que brevemente vou voar,

 

Percebo que estou vivo,

Respiro,

Amo,

Enquanto tudo arde,

Trago a mim aquele rio de saudade,

Trago a mim os teus olhos em maré…

 

Enquanto tudo arde,

Sento-me e pego na tua mão,

Sento-me nesta pedra cinzenta,

Sem medo de partir,

Sem medo de viver…

Enquanto tudo arde,

 

Pincelo a manhã de púrpura paixão

Como se fosse a minha última manhã…

Como se fosse o adeus às palavras escritas,

Enquanto tudo arde,

Sento-me e pego na tua mão,

Sento-me… e olho-te junto ao mar.

 

(Francisco)

domingo, 7 de abril de 2024

O que dizer-te, quando a tua noite e quando o teu dia são o sofrimento disfarçado de lua e disfarçado de sol.

O que dizer-te, quando a única coisa que te posso dizer…

É nada dizer-te

ou dizer-te;

estou aqui!

 

(Francisco)

A voz

Converso com a terra-sepultura fria a minha voz. Há um dia

sulfuroso, uma pedra que é uma parede, invisível

da tua voz triste.

A terra-sepultura, em viés amanhecer, pergunto-lhe porque não cantam hoje os pássaros, que

hoje a Primavera está cinzenta, que lamenta, a ausência…

 

Da tua voz.

Punhal que esquarteja cada flor da madrugada, que uma raposa se envenena com o veneno do sono,

coisas

que brilham só quando a noite está presa no teu olhar; a água

dissipa-se como o fumo de um cigarro

e dorme junto ao rio.

 

A terra-sepultura mergulha a minha voz nas lágrimas de uma parede, de uma árvore quase a sorrir, quase a ser pássaro

nesta viagem sem retorno; vamos enterrar esta voz de sono no sono que só a insónia sabe acariciar.

O chocolate derrete-se nos meus finos dedos de gastalho envenenado, se a luz o é

as nossas vozes se beijarão dentro deste turbilhão de pétalas.

 

Cantarão as trombetas dos cortinados de linho. Assim parece, a milimétrica carícia nos teus olhos,

Sabe-se que as primeiras flores da manhã já acordaram, e converso com a terra-sepultura, no folego meu destino;

Ser um papagaio em papel, apenas eu, na escuridão do dia.

 

Que o dia te seja meu, quanto místicos poemas se lançarão contra as janelas dos teus lábios!

 

(07/04/2024)

O que é o amor

O que é o amor, depois do rio cancelar a aparição junto ao mar.

Quando todas as pedras são espadas que se cravam no peito, quando todas as estrelas são pontos negros,

Mais.

O que é o mar, destes poemas sem nome, videira que enfrenta o calor, o vinho que traz a alvorada,

um socalco

morre;

triste o é.

 

O que é o amor, depois do rio cancelar a aparição junto ao mar, após uma flor crescer e voar nos olhos do luar.

O que é o amor,

O sol que não sabe matemática, o sol que aquece e não sabe amar,

O que é,

É o amor

deste mar?

 

07/04/2024

Primavera

Não estejas triste, meu

amor. Os rios voltarão a correr para o mar.

O céu

voltará a ter estrelas a brilhar,

o sol voltará a sorrir…

E brevemente será outra vez Primavera na flor do teu coração.

 

07/04/2024

Amar-te hoje

Como foi a tua triste noite meu amor

Cinzenta noite parecida com a minha

Dizia-te que te amava

Que te amei ontem

Que te amei hoje

Quero ser amarelo

Quero ser o teu pólen que passas no rosto

Mesmo depois

De eu morrer.

 

Mesmo depois de eu dizer-te que te amo tanto como amo os poemas de AL Berto,

mesmo depois de eu morrer,

vou

amar-te; as flores são castanhas!

 

As palavras são minhas!

 

(07/04/2024)

sábado, 6 de abril de 2024

Cacilheiro

Ama-la? Se sabes que um orgasmo de suor prevalece sobre a tempestade,

amá-la, sinto as lágrimas cinzentas das pedras de comer, despede-se de mim, a

morte mineral do silêncio.

 

Tenho tanto medo de te perder, e nunca te tive e amanhã vão cair sobre a mesa, as primeiras palavras do prazer,

gemem os pratos uivos de sémen, depois tenho de guardar o rebanho e zarpar para os longínquos mares do sono.

 

Amas-me não me amas nem me desejas? Por isso

tenho nas janelas uns cortinados pincelados de medo, vêm os pássaros da tua

Primavera,

menina domesticada, deitada sobre uma cama de feno, suavemente debaixo da ponte,

no sabor do vento.

 

A criança que se revolta contra a indiferença de um adulto cabisbaixo, derradeiro meu trigo, amanhã que sim, tua mão no meu rosto. No meu beijo, indiferente ao teu toque,

tocas-me e aqui ao lado abrem-se as portas da madrugada,

amo-te, sabias? Sabes?

Que do trigo loiro do teu cabelo, uma gaivota volta para o mar.

 

Amei Lisboa, amei o Tejo, amei mulheres que se esqueciam de mim, quando um cacilheiro, embriagado, regressava de Almada, e amo-te mais do que Lisboa, mais do que o Tejo e muito mias do que todos os livros de poesia…

 

(06/04/2024)

Se te tocasse

Se te tocasse, enquanto a

minha mão se despede da tua

mão

ausente.

Se te tocasse, eu toco-te

sabendo que nos teus olhos de amêndoa uma

gaivota desenha Primaveras

então perdidas na madrugada.

 

Se te tocasse, toco-te desejando que da tua pela venham a mim

as flores dos teus lábios, um dia

perfumado juízo que apenas a loucura me embrulha.

Se te tocasse, toquei-te e às vezes

sou indiferente, à dor das árvores; se te tocasse

que te toquei…

Na luz da tua mão.

 

Se te tocasse, ausência

dentro do perímetro dos pilheiros floridos,

que te toco e te desejo;

porque te amo, e te toco se te tocasse…

 

(06/04/2024)