Adão olha para Deus, acaricia o cabelo de Eva e responde à questão colocada por Deus; e se para Eva tinha sido maravilhoso, para Adão
Um poema mergulhado no
sono, onde as palavras são facas afiadas na boca do luar, uma mão que desce da
alvorada e poisa nas margens do rio.
Deus, sorriu.
Convém dizer que Deus já
tinha criado a nespereira, a pedra, o homem e a mulher e a vagina, e claro, a
maquineta de fotocópias e os cigarros.
Faltava criar o mar, os
peixes, todas as restantes árvores e arbustos, os pássaros, a literatura e a
poesia.
Adão em silêncio, pega na
mão de Eva e leva-a até ao rio (o autor alerta que os rios já tinham sido
criados por Deus), senta-se sobre a pedra onde tinha passado a noite anterior a
fotocopiar a vagina e num pequeno sussurro diz a Eva,
Sabes meu amor, agora sei
o significado do desejo e do prazer e da paixão e do amor.
Eva olha-o e responde-lhe
que também ela, também ela tinha descoberto o desejo e a alegria de ser
desejada; dois corpos que se desejam e se perdem na neblina de um olhar.
Enquanto Deus olhava
pôr-do-sol desenhado nos olhos de Eva, dá-se conta que ambos tinha acabado de
descobrir a poesia.
A poesia das pequenas gotículas
que crescem nos corpos quando em desejo, estes, se transforma num só e o corpo
deixa de ser corpo, o corpo veste-se de poema, grita, geme e ama.
Alijó, 14/01/2023
Francisco Luís Fontinha
(ficção)
Sem comentários:
Enviar um comentário