domingo, 29 de agosto de 2021

As cinco pedras do destino

 

O que faz esta janela encerrada na minha mão?

Pergunta-se ele, pensando que alguém o ouve. Sempre que puxa de um livro, a poesia nasce,

Dorme,

Morre,

Nas palavras que escreve.

É tarde, meu amor, ouvem-se os apitos gemidos do teu corpo e, dentro dos gonzos da solidão, oiço os pássaros rio acima.

O corpo sofrido, amar-te antes que adormeça o dia, morra a noite

E,

Se escreva na tua mão o esplendor da inocência adormecida. Pensando melhor, amanhã, deixarei de semear as palavras da saudade,

Nunca.

Esquecerei aquele rio embriagado,

Cansado,

Triste de mim.

Há na tua sombra, o retracto da menina envenenada pelo desejo, num qualquer quarto de hotel, de terra em terra, de circo em circo, de mar em mar,

Amar-te; depois das doze horas,

O lençol espreguiça-se contra nós e, sentimos o peso das carícias que só os poetas sentem e, percebem. O palhaço rico, o palhaço pobre e o defunto, todos aos gritos de encontro à enxada da vaidade. Esqueço-me de acordar, levanto e vou de encontro ao cortinado ainda sonâmbulo e, aos nocturnos esqueletos, a luz que apaga a imagem que durante a noite,

Ela,

À noite o que é da noite.

As sílabas estonteantes, os gritos deste palhaço à muito embebido no éter málico das tempestades de Agosto,

Sinto-o,

Diz-me ela.

Tem quatro relógios, nenhum deles escreve as horas, faltam-lhes a fome que antes tinham e sentiam e, que hoje quase nada podem comer. Segundo a lâmpada do escritório deverão ser qualquer coisa como depois das vinte e três,

Horas,

Minutos,

Segundos de vida.

(Se escreva na tua mão o esplendor da inocência adormecida. Pensando melhor, amanhã, deixarei de semear as palavras da saudade,

Nunca.

Esquecerei aquele rio embriagado,

Cansado,

Triste de mim).

Os barcos, meu senhor, são para venda?

Para comer não serão eles, responde-lhe,

E muito bem, quem neste reino se alimenta de barcos?

O velho, o macaco e a tia.

O velho pensava que fodia,

O macaco,

Da tia,

Abram-se os alicerces da memória, escrevam-se as escrituras da terra adormecida, levantem-se os esqueletos da prefeitura,

E

Não!

Ninguém sobrevirá a este tremendo castigo; escrever

Depois da morte

E, viver.

Vive-se de quê?

Da sorte.

Envenenado pelo silêncio, ou

Sempre que quero

Foge.

Amanhã,

Hoje,

As cinco pedras do destino.

 

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À noite o que é da noite.

As sílabas estonteantes, os gritos deste palhaço à muito embebido no éter málico das tempestades de Agosto,

Sinto-o,

 

Neste Agosto perdido.

Neste Agosto sofrido.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 29/08/2021

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