Amar,
Desenhar
no alpendre as verdadeiras palavras, simples, comestíveis nas noites de
insónia, o caminho alicerça-se aos seus dedos, ele permanece impávido,
incrédulo, com todos os sorrisos das montanhas de sémen,
Não
pago, não quero saber da paixão, do amor proibido que só os lençóis de
porcelana conseguem desfrutar,
O
amor,
O
poeta,
As
migalhas de Deus descendo a calçada encarnada das escadas para o sótão, trazias
no corpo as flores mais belas dos jardins sem nome
O
amor,
As
janelas fotocópias de mares e marés ensonadas, a carta envenenada sem remetente
nos candeeiros do Luar,
“A
ponte,
O
fumo vadio galgando as minhas roupas como uma aranha sem nome, fios, pedaços de
saliva e gotículas de suor, a luz absorvida pelo teu corpo de naftalina, a
gaveta do guarda-fato sem nada guardar, esfomeado, húmido, este triste quarto
despido dos vidros e dos cortinados, frestas, sombras que um dia se ergueram
durante a noite e fugiram...
Regressar?
Partíamos...
Sem
perceber o que era a Saudade...”
Onde
moras, menino,
Perdi-me
sem saber o significado de saudade, Lisboa crucificava-me,
Abrias
os braços...
E
pensava em ti...
As
sombras, e pensava em ti, meu amor, quando adormeciam as imagens lânguidas do
sofrimento, o vulcão das tuas coxas,
O
regresso?
Nunca
As
sombras, o timbre fixo da foz espetada numa caixa de cartão, tinhas nas mãos a
safira paixão das noites em flor,
Nunca,
nunca conheci a tua pele, era sempre noite em nós, adormecíamos como dos corvos
suspensos na putrefacção da insónia, cintilavam os teus seios nas pálpebras do
mal-me-quer adocicado, louco
Apaixonado,
eu?
O
corpo incha como uma orquestra desafinada, os lençóis de linho misturados com
os beijos nocturnos do sémen inventado pelos rochedos da memória, hoje há
caracóis, sardinhas... os monstros marinhos da tua língua, os teus seios
abraçados a uma tela vazia, branca, triste como as ruas da cidade do abismo,
Hoje?
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
21/10/2018
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