“Fodias-me”
com todas as letras do alfabeto, espetavas-mas no meu corpo calcinado pela
madrugada desalinhada, imprimias no meu olhar a poesia emagrecida do silêncio,
e nunca ouvi de ti
-
Amo-te,
E
nunca ouvi de ti um único lamento, uma sílaba prisioneira nos meus tristes
lábios, uma grade imaginária pertencendo ao terceiro esquerdo, amo-te,
-
Nunca a ouvi de ti, pertencias aos míseros esqueletos da solidão, às flores
fotografadas numa noite imaginária, algures em cinco de Setembro, e sabia que o
dia nasceria contigo nos meus braços, não, não diria que…
-
Amo-te,
Porque
não, meu amor, se junto a nós habita a escuridão dos olhos pintados numa parede
envelhecida pelo tempo, pelos insectos, pela paixão de
-
“Fodias-me”,
Regressava
o circo, embrulhava-me nos palhaços como uma criança se embrulhava no esqueleto
cobertor, tinha frio, tinha fome e tinha a saudade duma terra esquecida sobre
uma secretária, “fodias-me”
-
Na noite, “foder ou não foder ou ser fodido”, tanto faz, neste mundo, neste
Universo em pedaços de suicídio, escondia o cortinado do prazer, desenhava
orgasmos nos teus seios
-
Sem o saber, queria ser o paquete que me trouxe de Luanda, queria ser o capim
em soluços derrubado pela fúria do sonho, amo-te, sem o saberes,
“Fodias-me”
na Ponte para Eternidade, “fodias-me” enquanto eu lia Fernão Capelo Gaivota,
sem nome, sem idade, sem casa ou paixão para abraçar, e no entanto, “fodias-me”
com todas as letras do alfabeto, espetavas-mas no meu corpo calcinado pela
madrugada desalinhada, imprimias no meu olhar a poesia emagrecida do silêncio,
e nunca ouvi de ti, o sono, novamente o sono, o sonho, novamente o sonho…e o
esquecimento, novamente o esquecimento…
(………………)
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira,
7 de Setembro de 2015
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