domingo, 1 de março de 2015

Hoje, Domingo, Março, primeiro dia...


Não quero ser como tu,
uma cratera de palavras,
invisíveis,
e mortas,
não,
não quero pertencer às tuas mãos,
não,
não quero poisar no teu peito envenenado pelo silêncio de pedra,
e às vezes, sem o saber, escondo-me na tua sombra,
como um rio amachucado,
dentro de uma folha em papel...
como um rio engasgado nos rochedos da melancolia,
hoje, Domingo, Março, primeiro dia...
de quê?
da tristeza?
ou... ou do inferno entardecer vestido de cidade...
ruas,
automóveis enlouquecidos correndo até ao mar,
avenidas e ruelas,
Março,
primeiro dia...
não,
não quero ser como tu...
um calendário pendurado numa das quatro paredes do abismo,
sem coração,
sem pálpebras de nada quando acendes a luz e a literatura voa nos nossos corpos,
somos dois pontos esquecidos no espaço,
um buraco negro,
corremos em direcção à estrela mais próxima...
e acordam as cinco primeiras canções das estátuas de pedra,
há no teu olhar as sete imagens da seara do sono,
e dos sonhos vejo os transeuntes procurando a sombra do pôr-do-sol,
estás triste, hoje,
primeiro dia,
Março,
e sem o saber... hoje é Domingo...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 1 de Março de 2015

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