terça-feira, 10 de junho de 2014

Que faço às limalhas do teu olhar!


Que faço às limalhas do teu olhar!
São pingos de sofrimento embrulhados em folhas de alumínio,
folhas adormecidas, folhas mortas, folhas... folhas embalsamadas,

E o teu olhar vive num cubo de vidro,
respira as magoadas madeixas de uma triste madrugada,
são singelas paredes, são insignificantes sombras...
são transeuntes encalhados numa calçada,

Que faço às limalhas do teu olhar!

E o teu corpo voa como a gaivota de amar,
poisa em mim como se eu fosse o mastro cansado de um veleiro,
desço à preia-mar,
cerro os olhos para não ver o teu triste olhar,
um cartaz apressadamente preenchido, grita-me e obriga-me...
… e obriga-me a chorar,
e obriga-me... e me obriga a sonhar,
com o teu olhar,
as limalhas do teu olhar quando prisioneiras das tempestades que os teus seios inventam,
esqueço,
e pareço...
o velho às voltas com a roda da vida,

Sento-me em ti!

Sento-me em ti não sabendo que és de papel,
que... que quando o vento se enfurece, tu... tu desapareces, tu...
tu... tu te transformas em silêncio,
em neblina,
em... em equação sem resolução,

Que faço às limalhas do teu olhar!
São pingos de sofrimento embrulhados em folhas de alumínio,
folhas adormecidas, folhas mortas, folhas... folhas embalsamadas,

Folhas como eu, folhas como ele, folhas... folhas apaixonadas,
que faço, meu amor, aos pingos do teu sofrimento,
quando vaiadas todas as mandíbulas da paixão,
e ao acordar, a minha mão não encontra o teu corpo de andorinha... tu, tu nunca lá estiveste,

Tu... tu nunca exististe dentro de mim,
tu, tu desejas não desejando o amanhecer,
e é tão distante, e é tão longínquo... que me perco nos teus braços invisíveis,
engano-me quando o espelho da saudade me informa que hoje...
“hoje não há felicidade”!
Hoje apenas existe uma cidade, uma rua, e... e uma velha calçada,
sem pressa de fugir, sem pressa de amar..., amar não amando os dias sem sentido,
eu sentado, esperando que tu, que tu... que tu sejas tu e não a noite vestida de limalhas, as limalhas do teu olhar!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 10 de Junho de 2014

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