foto de: A&M ART and Photos
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São páginas de tristeza,
folheio os teus dedos no meu corpo
ausente da madrugada sem janela,
existo, talvez... porque sinto o
perfume da tua dor,
são lágrimas de papel que me fazem
feliz,
e durmo pensando que estou debaixo de
uma nuvem de porcelana,
velhos cacos, alguns grãos de
solidão...
são páginas tuas presas à minha mão,
um livro que morre,
o escritor entranha-se no esqueleto
vadio do poeta,
e este, este acredita nas infinitas
flores dos jardins do nada,
uma montanha de silêncio corre em
direcção à cidade do Adeus,
a ponte que me transportava para a
outra margem, a casa da insónia,
(deixou de viver, morreu, caiu...
simplesmente ruiu como pedaços de saliva na boca do Amor)
Onde está neste momento a casa da
insónia?
nos teus olhos... acredito,
nos teus doces lábios de cereja
envergonhada?
ou... nunca existiu uma casa da
insónia?
São páginas de tristeza,
corações despedaçados como pedras
atiradas por uma criança para o rio da morte,
dos lençóis teus, o meu peito pintado
com holofotes de néon que a cidade do Adeus engoliu,
comeu,
alimenta-se de mim como sempre se
alimentaram as árvores e os pássaros e os telhados de zinco,
sinto-me um analfabeto folheando pedras
de xisto,
socalcos descem o meu corpo e sei que
há um cais onde fundear o meu sorriso,
deixei de sorrir?
porque o faço se a vida é um circo
com palhaços, carroceis e roulotes de cartolina...
sem pernas, sem braços... como os
velhos guindastes do porto de Luanda,
folheio-te sabendo que pouco mais há
que folhear,
e mesmo assim, são páginas de
tristeza, as tuas...
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 1 de Março de 2014
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