foto de: A&M ART and Photos
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porque te alimentas do néon moribundo
das portas em ruína
e percebes que os meus olhos são
cristais vagabundos
sem número de policia
apenas uma simples janela de porcelana
quando regressa a noite
disfarça-se de gaivota
deixa ficar os poucos vidros sobre a
mesa-de-cabeceira
e voa na cidade do medo
leva na algibeira o candeeiro mordomo
que sua senhora adorada lhe ofereceu um
dia longínquo
quando ainda existiam lábios de
borboleta
nas plantas marginais
do silêncio com algas
e dentro de um velho caderno
o esqueleto de duas ou três integrais
simples duplas triplas... como o teu
corpo em despedida
partias no primeiro autocarro da
carreira sem rumo definido
entre curvas e lagartos
livros e camaradas apaixonados pela
vodka da menina Alice
partias
e eu deixava de ver-te logo a seguir à
curva junto à ravina
despedia-me de ti dentro do meu quarto
escuro
e chorava
chorava medalhas de prata que me
ofereceste e nuca fui capaz de as usar...
(porque te alimentas do néon moribundo
das portas em ruína
e percebes que os meus olhos são
cristais vagabundos
sem número de policia
apenas uma simples janela de porcelana)
por medo
ou vergonha
nunca encontrei as tuas mãos no meu
rosto triangular
e chegava a casa
e a casa parecia-me um cubo em betão
armado
com braços em aço
com olhos em cristal
como os meus
(cristais vagabundos)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
(não revisto)
Domingo, 6 de Outubro de 2013
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