Saboreava-te percebendo
que na rua sofrimentos e cansaços emergiam da literatura que
sentados na esplanada em frente ao rio, ele, pegava na tua mão,
silenciava os teus gemidos, e
- viste as minhas calças
amor?
e percebia-se que
lentamente como se o vento fosse uma lâmpada incandescente, covarde,
lenta, e percebia-se que os outros miúdos de mãos na algibeira
esperavam pelas quatro badaladas amorfas do relógio de água, Não,
Não via as tuas calças e nem saudades tenho delas, às vezes, entra
no quarto disfarçado de cadáver, cruza as mãos e poisa-as no peito
dissecado sobre o mármore frio e longínquo dos barcos de papel que
o novo inquilino trouxe do outro lado do rio, levantas as mãos até
construíres um cordão de pedras preciosas à volta do meu pescoço,
e novamente a tua voz de malmequer abandonado no jardim da saudade
- viste as minhas calças
meu amor?
chaleiro, filho da puta,
agora já sou o amor dele, Meu amor, Meu querido, grande cabrão
este, da saudade até chegar ao Chiado, as ruas desertas, nuas,
abruptas dentro dos lençóis levantes que as madrugadas de Belém
deixavam na insónia entre espelhos e sofrimentos e cansaços
emergiam da literatura que sentados na esplanada em frente ao rio, e
não, Não vi as tuas calças nem desejos beijos às janelas sobre a
cidade verde e ténue de cinza quando os orgasmos nocturnos subiam a
Calçada da Ajuda, à direita olhava-a cambaleada nos paralelepípedo
de cintilações que os corpos transeuntes questionavam nos folhetos
de apresentação para o sarau onde sílabas e pedacinhos de peixe
frito mergulhavam na geada poeirenta que em Trás-os-Montes se
alicerça nos ombros dos vultos gaguejares com plumas de avestruz
sobre o susto que a noite provoca no amor,
- sabes o que é o mar,
guardião das minhas calças? Nele percebia-se a ausência
melancólica das andorinhas e dos grunhidos fósforos semeados nas
planícies húmidas do Tejo quando pescava mãos com os lábios cor
de veludo, e ouvia-os em cada suicídio imprimido no pavimento
circular do ciúme,
saboreava-te percebendo
que na rua sofrimentos e cansaços emergiam da literatura que
sentados na esplanada em frente ao rio, ele, pegava na tua mão,
silenciava os teus gemidos, e
- viste as minhas calças
amor? E quando o desassossego aparecia e silenciava os teus gemidos
questionados pelos transeuntes amorfos do espelho da morte, ouvia-te
chamares-me de dentro dos livros que eu deixava esquecidos sobre a
mesa-de-cabeceira, e nunca tive coragem de pegar em ti, e
possivelmente as tuas calças fazem parte dos cortinados inventados
por ele, quando o rio se sentava no colo emagrecido do fim de tarde,
vodka em cada suicídio imprimido no pavimento circular do ciúme
e percebia-se que ontem
te ausentaste de mim como fazem as gaivotas depois do pôr-do-sol,
sobe em ti a maré nocturna das palavras, lá fora uma lâmpada
incandescente, covarde, lenta, e percebia-se que os outros miúdos de
mãos na algibeira esperavam pelas quatro badaladas amorfas do
relógio de água, Não, Não via as tuas calças e nem saudades
tenho delas,
- há em mim o cheiro
intenso a cadáver,
sem perceber que o ciúme
telegráfico da tua língua brinca docemente nas asas do vento, e a
cidade adormece nos teus olhos de milhafre esquecido nas nuvens
fictícias das palavras inventadas nas tuas calças,
desejarei o amor
ilimitado dos plátanos magoados pela noite teus abraços em pedaços
de aço inoxidável pigmentado com acrílicos voos do fatídico
inverno, e um dia desenharei o amor dentro de quatro paredes de
vidro,
- viste as minhas calças
meu amor?
experimenta na
biblioteca, na prateleira do Lobo Antunes ou do AL Berto.
(texto de ficção não
revisto)
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