As avenidas da solidão
que desço depois do pequeno-almoço
olho-me quando entram em mim as flores
do inverno
e as tempestades que a noite putrificou
dentro das esquinas complexas minhas mãos
olho-me
sentado
inerte
morto
um coitado
que passeia na tarde os murmúrios em
ácidos cansaços beijos
ele descobre que o amor vive na
escuridão das palavras
derretidas no açúcar invisível dos
relógios de pulso,
silêncios beijos
os teus
sobre a impune geada das terras áridas
transmontanas
a lareira morre na insónia tua boca
os desejos longínquos suspensos no
tecto do prazer
prometendo números de circo
debaixo das árvores abandonadas pelas
desertas esplanadas da madrugada
olho-me
sentado
inerte
morto
um coitado,
e não tens vergonha dos meus lábios
de algodão
semeados na planície ínfima que a
vida constrói
em cordões de sémen quando os vãos
de escada descem às catacumbas dos sexos
magoados nas cansadas flores do inverno
as estrelas
as flores
o inferno
vêm dos distantes cais dos barcos de
papel
silêncios beijos
os teus
os nossos corpos em decomposição
amam-se e desejam-se e no húmido
pergaminho se transformam em poema.
(poema não revisto)
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