quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Sombras de chorar

 

São cinzas,

São lágrimas,

São tristeza,

São os olhos do mar.

São palavra,

São a revolta,

São beleza,

São os poemas de amar.

 

São distância,

São cidade,

São a saudade,

São as canções de embalar.

São equação,

São o que são,

São,

São sorrisos luar.

 

São cinzas,

São lágrimas,

São tristeza,

São as telas de pintar.

São a música,

São a letra,

São a tempestade,

São as palavras a caminhar.

 

São a falsidade.

São promessas da montanha,

São vento,

São lâmina de barbear.

São azeitonas,

Uvas insignificantes,

São laranjas,

São sombras de chorar.

 

 

 

Alijó, 03/02/2022

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

As palavras

 

Das palavras desertas

Às palavras cansadas,

Das palavras infinitas,

Ou comestíveis,

Das palavras abertas,

Às palavras famintas;

Ou todas as palavras invisíveis.

Das palavras envenenadas,

 

O oiro moiro da saudade.

Nas palavras amadas,

Às palavras sem vaidade,

Nas palavras mimadas,

Um pouco de verdade.

 

Das palavras deste livro em combustão

Às palavras sem nome,

Das palavras do coração,

Alheio à fome.

 

Das palavras em ti,

Em ti sentir o verbo amar,

Nas palavras que vi,

Que vi junto ao mar.

 

Das palavras testamentais,

Dos poemas em jornais,

Das palavras aos pardais,

Nas palavras que andais.

 

As palavras – que tombam ao som de uma espingarda.

Nas palavras amadas,

Às palavras sem guarda,

Estas minhas palavras,

Palavras cansadas.

 

 

Alijó, 1/02/2022

Francisco Luís Fontinha

domingo, 30 de janeiro de 2022

Abraço

 

Abraça-me,

Como se eu fosse uma pedra

Fundeada no mar.

Abraça-me,

Como se eu fosse uma ponte

Suspensa no ar.

Abraça-me,

Como se eu fosse uma janela

Para observares o luar.

Abraça-me,

Como se eu fosse um poema

Nos sonhos de sonhar.

Abraça-me,

Como se eu fosse uma flor

Nos teus lábios ao deitar.

 

Abraça-me,

Como se eu fosse uma pedra,

Ou uma pequena alma penada;

Porque deste corpo em guerra,

No final, não sobrará nada.

 

E de abraço em abraço,

De cidade em cidade,

Esqueço o cansaço,

Mas nunca, nunca esqueço a saudade.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 30/01/2022