quarta-feira, 20 de maio de 2020

as palavras

as palavras construídas nos teus olhos
das palavras dos sexos em delírio
às palavras sem destino
quando o mar avança
a terra se esconde
na tua mão
as palavras de nada
que eu escrevo para ti
são palavras envenenadas
palavras
cansadas
nas palavras amadas.
as palavras do menino
as palavras em lágrimas
poemas
palavras
choradas
as palavras que escuto na tua mão
quando o sol se deita na alvorada
são palavras
palavras de nada.
ai as palavras dos teus lábios
poesia que escorre pelo meu corpo
são palavras abandonadas
na tarde das palavras.


Francisco Luís Fontinha
Alijó, 20/05/2020

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Em cada olhar teu


Em cada olhar teu,

Uma estrela me ilumina.

Em cada cansaço,

Uma nuvem de estanho se alicerça a mim,

Sorri,

E, me encaminha,

Para o teu abraço.

Em cada silêncio teu,

Um rio se ergue,

Me abraça,

E, esquece,

Que a estrela que me ilumina,

Tem nome,

É uma barcaça,

No infinito dia a terminar.

Em cada olhar teu,

O mar,

Um barco cheirando a mar,

Te beija,

E, acaricia o teu sorriso.

Em cada olhar teu,

Um coração de lata,

Foge,

Corre,

E morre na sanzala.







Francisco Luís Fontinha

18/05/2020

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Sem ti


Sem ti, sou um pequeno ponto de luz nos braços da solidão.

Uma simples folha em papel,

Sem ti, sou um pedaço de terra, calcada pela desilusão,

Uma labareda de nada, entre sorrisos e abraços.

Sem ti, sou a cidade em combustão,

Crianças que guerreiam por um pedaço de chão.

Sem ti, os peixes cintilam dentro do aquário,

No leito cansado do pensamento.

Sem ti, sou um pequeno achado,

Palavra emagrecida, esplanada só, sem ninguém,

Sem ti,

Sou,

Aquele abraço aborrecido,

Dormindo na tarde.

Dormindo na esperança,

De um dia, sem ti,

Escrever nos teus lábios.

Sem ti, sou a personagem secreta da noite,

Sou lua enganada,

Sou luar das plantas inanimadas,

Sem ti, sou o jardim junto à calçada.

Sem ti, não sou nada.





Francisco Luís Fontinha

Alijó, 15/05/2020

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Não tenho pressa, meu amor.


Não tenho pressa de regressar às tuas mãos.

Enquanto dormir nos teus lábios,

Os meus braços alicerçam-se à tua boca,

Escrevem,

Correm,

Nos poemas de viver.

Não tenho tempo de regressar ao teu corpo,

Em chocolate puro,

Doce,

Como a amêndoa amanhecer.

Não tenho pressa de escrever no teu cabelo,

Os poemas de esconder,

Os versos partidos e fatiados,

Ao pequeno-almoço.

Não tenho pressa de caminhar,

Em direção ao mar,

Porque o rio está longe,

Das fotografias de beijar.







Francisco Luís Fontinha

Alijó, 14/05/2020

terça-feira, 12 de maio de 2020

Amanhã chove


Cansado da cidade dos sonhos, o cheiro a alecrim em pedaços de sorriso, enquanto lá dentro, no silêncio da tasquinha, a alvorada acorda como acordam, de manhã, todas as alvoradas,

Existe o medo, no teu sorriso de amêndoa, sentas-te, constróis sorrisos no meu olhar, semeias a esperança nas minhas mãos calejadas pela enxada da vida, o extinto silêncio de uma noite tricotada numa velha folha de papel, as árvores sombreiam as loucas abelhas das ruelas em cio,

Uma rua, chora,

Fictícios livros travestidos de sofrimento, alimentam a loucura das tardes junto ao rio, uma fotografia, feliz de ti, sorri-me e, desenha-se no meu corpo,

Ouve-me,

Lá longe, o oiro da solidão pregado numa parede granítica, aflita de dívidas, no sótão habita a fome, livros há muitos, mas apenas comemos sombras desde ontem,

No entanto,

Estamos felizes,

Muito.

O mar aconchega-nos aos três, lá fora ouvem-se as pedras da azafama que sustentam as ruas da paixão e, o mar é amigo dela,

Abraça-me, lê-me um poema de ninguém, que eu perceba, como o vento, em todas as tardes de vento,

A arte de comer sombras, duas partes de luz e uma de água, mexe-se bem, agita-se, e na mesa uma travessa de lagosta, suja, cansada da vida, como eu, quando o gelo do uísque aterra na minha mão, juntos às palavras, palavras, honestas, fiéis ao labirinto do medo e, nos joelhos, as páginas de um velho Jornal,

Amanhã chove.

E as flores?

Que têm as flores, a não serem flores, com cores, em papel, em marfim, em pedacinhos de luz,

Amanhã chove.

Oiço na tua mão a trémula palavra do amor, as vinhas dormem nos socalcos da solidão, porque a noite é bela, porque a noite é parva, como ela,

Chove, amanhã?

Amanhã chove.





Francisco Luís Fontinha

Alijó, 12/05/2020