quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Bilhetes de infância


Perguntei ao flamingo se reconhecia a minha voz,

Escrevi-lhe bilhetes de infância sonorizados com nuvens envergonhadas,

Senti nele a tristeza das horas junto ao rio,

Permiti-me abraçá-lo, permiti-me acariciá-lo…

E daí nasceu um poema, palavras dispersas na madrugada por nascer,

Morreram os poemas, morreram as palavras…

Morreram os flamingos amigos do flamingo,

E, e eu fiquei só,

Tão só como as noites de Inverno.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 2 de Agosto de 2017

terça-feira, 1 de agosto de 2017

A janela com vista para o mar


Uma janela com vista para o mar,

O barco da despedida espera-me, e brevemente estarei nos teus braços,

Um livro recheado de imagens a preto-e-branco,

Renasce na tua mão. Posso manuseá-lo, mas perco os desenhos imaginados pelo louco autor das searas imaginárias,

Enquanto o trigo se despede da planície…

 

Eu brinco com o teu olhar escondido na sombra das árvores.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 1 de Agosto de 2017

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Defuntos cigarros


Pergunto aos defuntos cigarros meus onde está o vazio,

Esta simples forma de viver acorrentado à cidade adormecida,

A doença aproxima-se,

Esconde-se no fumo,

E desaparece na madrugada,

 

O corpo range,

Evapora-se na tridimensional poesia da tarde,

O livro morre,

De tanto viver a saudade,

 

Pergunto-me… porquê?

 

Naves espaciais poisadas no meu quintal,

Homens pequenos,

Fumam cigarros emagrecidos pela geada,

Apetece-me fugir com eles,

Libertar-me destas correntes de aço,

E nunca mais regressar aos teus braços.

 

Defuntos cigarros,

Nas mãos calejadas pela caneta…

 

Palavras enroladas no vento…

 

Palavras mortas na noite.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 31 de Julho de 2017