segunda-feira, 11 de maio de 2015

Pálpebras de estanho


Perdidamente só

Nos corredores da esperança

Acreditar

Sabendo que a mentira

É a verdade

De ser

E sentir

As correntes do desassossego

A melancólica palavra

Nos teus lábios

Ensanguentados de sílabas

E de orgasmos

Literariamente

Infinitos

Perdi os sonhos

E a vontade de desenhar o teu corpo

No meu corpo

Escrevo

Sem saber o que escrevo

O que sinto

Não sentido

A mentira

Transformada em verdade

Cerro os olhos

E acredito nas pálpebras de estanho

Que a madrugada constrói no teu olhar

E não consigo transpor o cortinado do sofrimento

Perdidamente só

Enquanto a montanha se abraça no medo

O papel fumado

Ardido

Consumido pela tempestade

Dos tormentosos alfinetes da sanidade mental

A loucura

Travestida de mulher

Escondida nas catacumbas da solidão

O que sinto

Não sentido

A mentira

Transformada em verdade

Cerro os olhos

E vejo-te deitado num caixão…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 11 de Maio de 2015

domingo, 10 de maio de 2015

A enxada do silêncio


Tínhamos na enxada do silêncio

A esperança de uma nova madrugada

Ouvíamos todas as noites

O ranger do xisto contra os corações de sombra

E ninguém percebia

Que aquele

O rio

Que aquela

A cidade

Pertenciam-nos

Como crianças

Brincando

Sem destino

Ou vaidade

Como sonâmbulos de pedra

Dormindo

Num qualquer jardim

Entre beijos

Abraços

E palavras sem fim

Tínhamos na enxada do silêncio

A vergonha do cansaço

Porque habitava na noite um barco de sémen

Descendo pausadamente

A Calçada

E morria

E morria

Junto ao teu corpo

E morria

Enquanto te abraçavas às estátuas da solidão

Que caminhavam

Caminhavam

Que caminhavam na tua mão…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 10 de Maio de 2015

Apenas…


Deixei de acreditar

Nos meses

Anos

Horas

Minutos e segundos

Apenas

A razão do silêncio

Quando rompe a solidão cortinado adentro

Escondo-me

Dentro

Do

Do armário invisível na parede de sombra

Do teu olhar

Deixei de acreditar

No amor

A paixão

A noite

E as ruas sem transeuntes embriagados

O texto apinhado de rosas em papel

Esperando o vento

Que as levará para a tua boca

Meu amor

Meu querido

A fúria infestada de incertezas

Nenhumas

Apenas

Anos

Horas

Minutos e segundos

Apenas…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 10 de Maio de 2015