segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Morto... o corpo em combustão

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Embriagadas palavras
que ao silêncio pertencem
escuras avenidas
da cidade perdida
voando sobre os alicerces da solidão
há flores esquecidas
nas lápides roubadas...
parcas palavras...
de um corpo em combustão
morto
fugindo da madrugada
fingindo gemidos de prazer...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2015


domingo, 8 de fevereiro de 2015

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Partíamos sem regresso, ouvia dos pulmões do paquete a respiração ofegante, a cidade desembrulhava-se do silêncio do mar como um rebuçado acabado de atracar ao cais da infância, só tínhamos um caixote com algumas recordações, retratos, poucos, e roupas...
E o poeta?
Trapos, restos de ossos, nas mãos o cansaço das sombras da aldeia acabada de se esconder dentro da eira granítica da solidão,
Partíamos...
Sem regresso, inventava a “mulher clitóris” e percebia que os Mão Morta pertenciam ao meu futuro, e que um dia
O Poeta?
Morreu, e que um dia mataria as horas e os minutos...
“mulher clitóris”,
O Rossio erguia-se do manuscrito sem título, perdido, a morte disfarçada de cigarro, o Rossio entranhava-se no meu peito, as Avenidas pertenciam-me, como todas as janelas com fotografia para o mar,
A ponte,
O fumo vadio galgando as minhas roupas como uma aranha sem nome, fios, pedaços de saliva e gotículas de suor, a luz absorvida pelo teu corpo de naftalina, a gaveta do guarda-fato sem nada guardar, esfomeado, húmido, este triste quarto despido dos vidros e dos cortinados, frestas, sombras que um dia se ergueram durante a noite e fugiram...
Regressar?
Partíamos...
Sem perceber o que era a Saudade...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 8 de Fevereiro de2015


E... e amanhã?


As quatro esferas do silêncio
entrelaçadas às três rectas da solidão...
encontrar-se-ão no infinito?
De mão na mão
passeando na cidade faminta das abelhas?
e... e o poema proibido?
Amar-se-á como se amam os pássaros
e as plantas...

O esqueleto simplificado da geometria do cansaço
as lâminas da insónia
como guilhotinas descendo sobre os meus braços...

E... e amanhã?

Um calendário ferrugento
galgando o rio em pequenos círculos de gelo
uma caneta em suicídio
no bolso da paixão
o homem arde na fogueira do amanhecer
acreditando que há nos relógios de pulso...
amor
e palavras para escrever...

E... e amanhã?


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 8 de Fevereiro de 2015