segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Imaginar


Imagino o teu corpo uma límpida folha de papel,
Lapidá-lo com as minhas mãos todas as palavras,
As possíveis…
E as impossíveis,
Meus Deus…! Tenho tanto onde escrever…
Imagino os teus lábios ao acordar,
(Húmidos, tranquilos como um veleiro à deriva no mar),
Suspensos nos meus, como se fossemos dois triângulos interlaçados no infinito,
Imagino os teus seios fundeados no meu peito,
Sem pressa de zarparem,
Esperando que regresse o amanhecer,
Esperando que eu termine de escrever,


(só… só não consigo imaginar,
O que tu imaginas com as minhas mãos de brincar…!)


Imagino o teu olhar,
Escondido na sanzala dos gritos,
Uns dias quer voar…
Outros…, outros deseja poisar no silêncio nocturno dos pássaros,


(só… só não consigo imaginar,
O que tu imaginas com as minhas mãos de brincar…!)


Imagino os teus gemidos dançando na seiva embainhada,
Como uma jangada,
Como uma palavra…
Imagino os teus cabelos suspensos na alvorada,
Livres,
Tão livres como o pensamento…


Imagino o teu corpo uma límpida folha de papel,
Lapidá-lo com as minhas mãos todas as palavras,
As possíveis…
E as impossíveis,
Meus Deus…! Tenho tanto onde escrever…
(só… só não consigo imaginar,
O que tu imaginas com as minhas mãos de brincar…!)
Imaginar…



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 18 de Agosto de 2014

domingo, 17 de agosto de 2014

O alicerçado enforcado


Há nesta árvore nua e ensonada,
uma vida sem alma,
um corpo fusco com odor a embriaguez,
há nesta árvore um sorriso,
uma varanda com fotografia para o mar,
o silêncio é contagioso,
doença que invade o alicerçado enforcado...
o homem que inventa tristezas,
o homem que escreve insónias,
há nesta árvore estórias,
madrugadas sem nome,
o homem...
o homem das asas negras,
esperando o regresso da jangada de granito,
ele não resiste,
e insiste...
desenhar na tempestade o infestado grito,
há...
há nesta árvore nua e ensonada,
um poeta em chamas..., um poeta que arde na fogueira...!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 17 de Agosto de 2014

Beijos de papel


Embrulhados em pura lã virgem,
acordam os lábios do entardecer,
há uma estrela que finge viver...
há uma estrela amarga voando em direcção ao mar,
uma mão que se esconde na neblina,
uma mão com olhos de menina,
embrulhados,
acordam...
os fictícios beijos de papel,
uma sombra que se esquece de adormecer...
na cidade dos coqueiros envergonhados,
nos lábios..., nos lábios embrulhados!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 17 de Agosto de 2014