sábado, 15 de março de 2014

Simplesmente... me inventas

foto de: A&M ART and Photos

Inventas o prazer nas folhas pergaminho do desejo,
há uma caneta de tinta permanente pronta em ti a escrever,
sombrear o teu corpo de espuma em finíssimos traços de madrugada,
há silêncio nas tuas pálpebras enquanto imagino o poema que vou declamar no teu olhar,
e a cidade adormece sobre o travesseiro da paixão,
inventas o amor, inventas-me na escuridão,
simplesmente... me inventas, fazes de mim uma triste flor, a palavra que teimo em não pronunciar,
inventas na minha boca as caricias infinitas dos círculos do amanhecer,
e depois,
e depois... e depois desapareces nos carris que o aço alimenta, e desenhas na parede do medo o ciume,
amar, não amar, ser amado... não ser amado, … sou eu,
inventas o prazer e o meu corpo é um esqueleto de veludo...

Um barco em esferovite das brincadeiras de menino,
inventas o prazer disfarçado de naftalina, dentro do armário apodrecido,
dás-me cigarros para eu fumar e fumo-os como se precisasse de fugir,
correr, subir a montanha... e voar em ti,
sorrir... dou-me conta que deixei de sorrir, de viver... como viviam os pássaros na aldeia,
inventas as bonecas que dormem nos musseques, e dos zincos telhados... a solidão,
há entre nós a melódica canção, o corpo mergulhado em lençóis de linho,
a janela de onde é impossível olhar o mar, o Mussulo... e a Baía,
Inventas-me nos quadriculados cadernos, fazes de mim uma equação trigonométrica,
sem resolução,
um barco, dizes-me que sou um barco...
que inventaste para te divertires enquanto não regressa a ti o sonho e a noite e a insónia toma conta dos teus lábios...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 15 de Março de 2014

Preciso

Foto de: A&M ART and Photos

Preciso de um nome para saborear a tua pele,
qualquer um, apenas um nome, uma palavra, vã... uma palavra retirada da ardósia da tarde,
preciso de uma madrugada para pincelar o teu rosto no espelho do luar,
qualquer luar, qualquer noite construída do nada, uma só noite,
e quando amanhecer, finjo que sonho, finjo que no meu tecto habitam estrelas em papel,
finjo... finjo que do amor crescem palavras, e apenas uma será escrita na tua pele...
preciso de um corpo, preciso da tua pele que ilumina o teu corpo,
uma só, palavra, desenho, ou... ou som melódico como as árvores casadas,
e finjo, e sei que algures habitas nas janelas da cidade,
uma só palavra, uma só cidade,
preciso,
preciso de uma palavra, de um só nome, para ornamentar a tua pele de oiro...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 15 de Março de 2014

sexta-feira, 14 de março de 2014

Poema acabado de escrever

foto de: A&M ART and Photos

Quero o teu corpo mergulhado em mim,
sentindo-o nos meus dedos, semeando-o no meu peito,
há nos teus lábios o anseio, o desejo, e a plenitude perfumada da rosa acabada de nascer,
a madrugada cessa, vai-se... e corre em direcção ao rio imaginário que só o teu púbis conhece,
e tu, e tu dentro de mim, esperas-me, esperas as minhas mãos que se entranham nos teus seios de ribeira adormecida, imaginas-me um esqueleto de sémen...
saberei a cor dos teus olhos envergonhados?
quero o teu corpo, a tua pele insígnia quando florirem as árvores na Primavera, quero-o...
sentar-me no teu colo, acariciar a tua boca como se fosses um poema acabado de escrever,
ainda sem nome,
apenas um poema como tu,
um poema mergulhado em palavras esbranquiçadas que só os muros do medo... conhecem, e amam,
quero-o, assim, quero-o eternamente meu, eternamente amado... eternamente... quero-o.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 14 de Março de 2014