quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Os barcos de quilha adocicada

Dizias que o silêncio era uma árvore onde viviam laranjas, e que a solidão, quando aparecia, nunca vinha só, e sempre acompanhada, subia as escadas sumarentas de artrose e reumático, às vezes ouviam-se-lhe os suspiros dos dejectos indesejados que os insectos deixam ficar sobre a clarabóia de onde se via o céu, via-se claro que sim
Porque hoje acabo de saber que este, por ordem superior, foi privatizado e levado para outras paragens, ouvem-se os lamentos dos angustiados
Filhos da Puta,
Mas de nada servem os insultos, porque o céu, esse, tal como a água, essa,
Dizem que “Já Era”, como os cadáveres sonolentos dos impostores vaidosos que se fazem passear pelas avenidas da cidade, uns coitados de uma classe de “Mete Nojo” que só sobrevive à custa das escadas do Papá ou da mamã, ou do vovô... ou da “puta que os pariu”, mas sobrevivem, tudo têm e dizem que são felizes,
Tirando os barcos de quilha adocicada e com profundas modificações nas mãos com unhas de gel, nada de importante aconteceu hoje, o País continua na sua agonia morte lenta como os doentes que a tombola da sorte sorteou, e vivem desgraçadamente até deixarem de respirar, os Países Ditatoriais precisam de um povo inculto e de um exercito forte, o povo cala, e o exercito impõem a força, e para tal, o corrupto do chefe de estado precisa de generais fortes, corruptos, ricos
Ricos Monetariamente,
Filhos da Puta,
“Já era”,
Mas de nada servem os insultos, porque o céu, esse, tal como a água, essa, “já Foram”, e qualquer dia até Deus, até esse vão conseguir privatizar, e vimos Senhores Ministros do Reino em apertos de mãos a “Filhos da Puta” de ditadores, e o povo, lá, a morrer de fome, e o povo, lá, desprotegido dos mais essências bens dispensáveis a qualquer ser humano; saúde, justiça, educação...
Mas
Tirando os barcos de quilha adocicada e com profundas modificações nas mãos com unhas de gel, nada de importante aconteceu hoje, a Teresa ofereceu-me um livro “Diários – AL Berto”, talvez porque hoje é quinta-feira, talvez porque o fim-de-semana está a caminho, talvez
Dia dos namorados,
Não conheço, peço desculpa, e na melhor das hipóteses é entrar na barbearia ali junto ao quiosque das amêndoas em flor e perguntar a barbeiro, esses, esses quase que sabem de tudo, agora eu, não, não sei nada sobre o dia dos namorados; isso é o quê?
Mas Ricos Monetariamente, as Ditaduras de “Merda” que em troca do dinheiro tudo lhes é permitido; até roubar os sonhos das crianças...

(não revisto; a única coisa verdadeira neste texto é o livro de AL Berto “Diários”, tudo o resto é pura coincidência com a realidade)
@Francisco Luís Fontinha

Isso é amor


Se os teus olhos de poesia
um dia dormirem com o luar,
isso é,
isso é amor,

Se a tua boca de ficção
um dia sorrir,
isso é,
isso é amor,

Se as tuas mãos de papel tricolor
um dia aparecerem com palavras escritas,
isso é,
isso é amor.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

COSTUREIRO OU BAILARINO

A minha casa,
Quatro paredes em cartão, do fino, que é mais chique, não tenho janelas para o mar, porque infelizmente ele vive longe de mim, não tem telhado, felizmente para mim, porque às vezes falta-me o ar e tenho grande dificuldade em respirar, ela, a minha casinha, não tem mobílias luxuosas, e tirando a máquina de costura Singer que herdei de uma bisavó que deve ter mais de setenta anos, talvez mais
Nada a acrescentar, nasci longe e vim de longe, e quando regressar, irei regressar para longe, talvez encontre outra casinha modesta com esta, mas aqui
Não vou ficar mais,
Mas aqui falta-me o mar, os barcos em passeios nocturnos quando terminavam as sessões das duas da madrugada, os cinema recheados de gajos em desejo, às vezes sentiam-se-lhes os gemidos entre as portas de madeira do Hall e a sala de fumo, percebia-se pelo comportamento dos cigarros que havia um perfume de mulher algures nos cortinados das janelas viradas para os telhados adormecidos de uma cidade abandonada, mas lá eu
Tu lá eras feliz, tinhas sonhos, brincavas com personagens invisíveis e desenhavas em todas as paredes da casa, excepto na casa de banho, talvez por ser o único compartimento que quase sempre estava ocupado, passavas tardes intermináveis a construir vestidos para bonecos loucos, pegavas na agulha da tua mãe, nas linhas, e dos tecidos
Lindos vestidos e quando te perguntavam o que querias ser quando fosses grandes, algumas vezes respondias
NADA,
Outras que
QUERO SER COSTUREIRO OU BAILARINO,
E afinal
E afinal não fui uma coisa nem outra, sou um homem descomplexado, pobre, sem palavras, sem ideias, sem o amor vestido de qualquer coisa, de morte
Outras que
QUERO SER COSTUREIRO OU BAILARINO,
E
E afinal vivo numa casa com quatro paredes em cartão, do fino, que é mais chique, não tenho janelas para o mar, porque infelizmente ele vive longe de mim, não tem telhado, felizmente para mim, porque às vezes falta-me o ar e tenho grande dificuldade em respirar, ela, a minha casinha, não tem mobílias luxuosas, e tirando a máquina de costura Singer que herdei de uma bisavó que deve ter mais de setenta anos, talvez mais
Outras?
E
E ainda acredito nos olhos disfarçados em poemas, e ainda acredito nos lábios com tonalidade de sílabas adormecidas, como as rochas do amor, como os orifícios das portas com vista para um corredor comprido, fino e escuro, onde
Brincam
Onde e
Barcas vestidas de barcos com âncoras de aço e correntes em oiro, às vezes oiço-os masturbarem-se no tecto embaciado do Domingo de prata, e do calendário ordinário com gajas nuas que o sapateiro suspende todos os anos desde que começou a trabalhar
Murcham as palavras do amor proibido, cansado do azul sobre os joelhos com rosas amarelas, vestias-te de cinzento para te confundirem com os candeeiros de silício amargurado que caem nas noites de celibato, e os homens aproveitavam-se das tuas mãos para roubarem o telhado da minha pobre casinha,
A trabalhar um pedaço de sola como o pão duro das sobras que durante a noite dormem nos caixotes de luxo, e que muita gente teima em apelidar de lixo, duro, robusto, sapatos de luxo para exportação, e quem sabe
NADA,
Outras que
QUERO SER COSTUREIRO OU BAILARINO,
E afinal
E afinal não fui uma coisa nem outra, sou um homem descomplexado, pobre, sem palavras, sem ideias, sem o amor vestido de qualquer coisa, de morte
Outras que
QUERO SER COSTUREIRO OU BAILARINO,
De fatias de pão nasçam sapatos de luxo...

(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha