quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

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Sobejaram os cornos pigmentados de sílabas monótonas e sons melódicos das tardes invernais e travestidas de lilases vestidos de cetim, ou então
Que lindos
Ou pior
Vou-me casar, não me chateies,
Ora este,
Casar-se, Com quem?
Se nunca vi esta ave de rapina com alguém, nem sequer com um ramo de flores ao peito, nem sequer apaixonar-se ele conseguiu e a mastronça (ele vestido de ela) agora diz que se vai casar (há cada uma que até parecem duas),
De
Pimenta,
Ou pior do que isso
Desenhar-te em fragrâncias a inocência dos pingos de chuva cinzenta, alta, esguia, égua de longa duração, saltitando sobre as espuma do mar oceano, as gaivotas suspensas nos guindastes de vento enquanto do sacerdote vagarosamente lia as palavras mágicas, ele
Adormeceu em “Aceita” e quando acordou o respeitado sacerdote pronunciava a frase imaginária “Até que a morte os separe”, estremeceu, cambaleou-se como se o vento das tempestades de areia assistisse também ele às cerimónias, lá fora os barcos de recreio brincavam junto ao petroleiro de lábios lânguidos de bâton encarnado em busca de um cigarro de incenso, e quando percebeu que desenhá-la numa branca parede que a inocência transformou em pingos de chuva ao cair da noite, uma rua deixou perder-se dentro da própria cidade de areia, havia livros encadernados em couro que transportavam o peso da agonia, sentia-os, e percebia-os, escondidos nas almas e nos corpos da impossibilidade sombra que as velhas mãos esqueceram nos desejos destinos das línguas de fogo que uma lareira encaixou na baía dos sonhos pincelados a verniz e a perfume de hortelã-pimenta, e respondeu
Não, não aceito,
Em pedaços, cada barco zarpou como zarpam as nuvens depois da chegada do vento, numa das ruas desertas da cidade fantasma, chorava um velho cacilheiro dos anos sessenta, na varanda do quinto andar esquerdo, um velhíssimo esqueleto de prata fumava cigarros de ervas aromáticas, diziam-lhe as vizinhas que era bom para a asma, eu
Deixava aos poucos de acreditar,
Não, não aceito,
Acreditar nos desenhos em fragrâncias que a inocência dos pingos de chuva cinzenta, alta, esguia, égua de longa duração, saltitava sobre a espuma do mar oceano, as gaivotas suspensas nos guindastes de vento enquanto o sacerdote vagarosamente lia as palavras mágicas,
Desisto, vou-me definitivamente embora das ruas desertas da cidade ruim que entrou em mim e desde então, nunca mais fui dono do meu esqueleto de oiro.

(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó

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Sapo Angola

(O amor)

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O amor


O amor transformado em pequenas palavras
o amor
em desejos
desejado
dentro do mar
o amor transtornado em pequenos desenhos na areia
chamo docemente o teu corpo náufrago
e vem até mim a ilha dos sonhos
veste-se de ti
e coloca nos teus lábios os beijos dos pássaros do amor em amor
descem a calçada até chegarem à lua
tua desordem madrugada,

vestem-se de ti
e levas nos seios o silêncio dos poemas escondidos na gaveta da insónia,

não sei se sou eu que te amo
ou se é o meu corpo a desejar-te
quando entras na noite e desces a barra até encontrares na cidade
um porto de abrigo
um peito com marcas geometricamente inventadas
imaginadas
pelo vento que te abriga e obriga caminhando velozmente dentro do mar
o amor transformado em pequenos desenhos na areia,

teimosamente não desisto de resgatar-te das garras clandestinas da tempestade
mesmo não sabendo quem és
ou onde vives
mas sei que te amo
ou desejo
e também sei que te vestes de poema
e escreves nos vidros dos meus olhos
palavras lindas
belas
como todas as flores dos jardins em frente à tua lareira
O amor transformado em pequenas palavras
o amor,

(vestem-se de ti
e levas nos seios o silêncio dos poemas escondidos na gaveta da insónia.)

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha