segunda-feira, 30 de julho de 2012

(e não sei amar)

Vivo entre quatro paredes invisíveis
construídas pelo vento
sou metade pássaro
sou metade peixe
(e não sei amar)
e nunca percebi as (mulheres)
confesso
confesso que me é mais simples resolver uma equação diferencial
do que
do que olhar as manhãs de inverno da janela do palheiro onde habito
do que
resolver uma integral tripla

confesso
(e não sei amar)
as cintilações da álgebra linear e geometria analítica
matrizes
confesso que muito mais simplificadas
do que
do que algumas mulheres
(e não sei amar)

as flores
e as noites à espera das sílabas lunares
em rotações complexas
elípticas

o que interessam os protões
electrões
buracos negros
galáxias
deus
se o céu nocturno é tão lindo...

o que me interessa se a água é uma molécula
composta por dois átomos de hidrogénio
e um
e um átomo de oxigénio...

se elas (as moléculas) simplesmente saciam a sede
e refrescam as mãos húmidas das palavras
em telegramas ínfimos ausentes no cadáver da floresta abandonada
(e não sei amar)

dizem
dizem-me que nunca soube amar

e
e fico triste.

domingo, 29 de julho de 2012

Arte de navegar


Um muro de silêncio separa-me do mar
invisível
com ondas de sabão
e marés de açúcar

oiço as mentiras da minha vida
(e percebo que o teu mar não entra pela janela [AL Berto]
e daqui até ao dia14 de Janeiro...
portanto eu desconfio que se disser mar em voz alta
o mar não vai entrar pela janela)
não existe o mar
nem existem as palavras que me escrevem
nos lençóis de linho com corações de mel
e amêndoas de chocolate
e eu escondia-me dentro do infinito

não existem as estrelas penduradas
no tecto da tenda do circo da noite
onde se cruzam e entrelaçam mãos ensanguentadas de poemas
e lábios de mentira
não existe o amor
a paixão
o mar não existe e é impossível escrever nas cordas do ciúme
onde habitam os mortos sem coração.