domingo, 20 de novembro de 2011

Sem as palavras deixo de existir

As palavras que escrevo
São as sombras que sobejam da noite,
As palavras murcham
E o peso da angústia alicerça-se em mim
Como um vulcão
Dentro da montanha,
As palavras que escrevo
São as sombras que sobejam da noite
E nunca mais regressam,
Ausentam-se no paralelepípedo da maré
E encostam-se à coluna vertebral
De um cargueiro em aflição,

Deixei fugir as palavras
E deus brinca com elas
Sobre uma mesa de mármore
E uma jarra de gladíolos,

As palavras que escrevo
São as sombras que sobejam da noite,
As palavras murcham
E o peso da angústia alicerça-se em mim,
E sem as palavras deixo de existir,
E o peso da angústia
Sobre o meu corpo carbonizado pelo perfume das rosas
Evapora-se entre os eucaliptos juntos ao rio.

59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

Desejo

Desejo-te quando as páginas do teu corpo
São folheadas pela minha mão
E os meus olhos leem
As gotinhas de suor da tua pele

Desejo-te quanto te transformas em poema
E te deitas sobre o meu corpo
E me abraças
E dos teus lábios crescem as sílabas da tarde

Desejo-te quando o livro do teu corpo
Dorme dentro dos lençóis da biblioteca
E sobre ti todos os poemas
E dentro de ti… Eu desejo-te