O peso da dor
no corpo do enforcado
dos silêncios de luz o
amanhecer
(uma criança chora
docemente)
nos uivos das manhãs sem
cortinados
beijos do pequeno-almoço
na distância ao vento
e o enforcado abraçado
ao barco da saudade
o regresso sem embarque
a miúda com flores na
cabeça
pinta as lágrimas do
enforcado feliz
no jardim da miséria
o peso da dor
em liberdade condicional
dentro do corpo
o enforcado no silêncio
das tardes de Verão
a praia alimenta-se de
bebidas exóticas
e bolachas com chocolate
e cigarros imaginários
nas angustias do medo
do medo de não terminar a
viagem
não regressar
regressar
à praia onde poisam os
barcos de papel
e brincam os papagaios de
abelha
no pólen da Baía de
Luanda
as palmeiras seguram o
enforcado
com os olhos das gaivotas
e as mãos dos
imprevisíveis horrores
antes de partir o comboio
da tristeza
hoje
hoje sem regresso
hoje
e regressar para quê?