sexta-feira, 16 de agosto de 2024

 

desta maré de sono, que se entranha no teu corpo, cacimbo que poisa nos teus lábios,

sempre que a noite,

se despe em frente ao rio.

 

é este mar cinzento, disperso, sem madrugada nos teus cabelos,

pássaro em papel cremado pelo incenso,

se ergue na alvorada,

o medo, de amar.

 

no medo, em desejar. desta maré de sono, pobre em pão e rica em poesia, sempre que a tarde é apenas o silêncio do dia

ou sempre que a noite,

 

é o inferno das estrelas. senta-se numa cadeira de insónia o poeta que ama,

sem perceber que és apenas uma flor, suspensa no vento.

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

 

aos poucos, esqueço-me de ti.

aos poucos, ergo-me desta latitude envenenada por uma lâmina,

aos poucos,

salivo a distância até à próxima estrela, aos poucos

sou também eu,

uma estrela.

 

aos poucos, caminho em sentido à tua sombra, que aos poucos,

se veste de luz. aos poucos, o dia engorda, os pássaros, os pássaros mergulham na manhã, que também ela, aos poucos, se transforma em poeira. aos poucos,

a música é o sol, que aos poucos, inventa o sono

na tua mão.

 

aos poucos, tomo café, e acordo da bebedeira da noite passada.

aos poucos, oiço o meu amigo gijón, dos poucos

ainda vivos, aos poucos conversamos sobre os filhos, que nem eu e nem ele, temos. aos poucos, bebemos cerveja, fumamos um charro, que aos poucos,

adormeceu no mercado.

 

aos poucos, esqueço-me de ti!

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

 

és a noite

travestida

de

encanto,

sinto-te e sei que pertences

ao tempo, és a noite

és o vento

no alento

no momento.

 

és a noite

travestida

de

encanto,

 

e no entanto…

o poeta morre nos teus olhos.

 

que seja breve

a ausência do teu

corpo

se à noite pertences

que seja breve

o mais breve

o silêncio do teu olhar

se é que algum

dia

consegui te olhar

que seja breve

talvez amanhã

tão breve como o vento

quando poisa no

teu cabelo

e um mar de rosas

se ergue

até ao céu.

 

que tudo, seja breve.

tudo.

 

(que comecem os festejos em honra de Santa Maria Maior/ALIJÓ

13/14/15 e 16 AGOSTO)

terça-feira, 13 de agosto de 2024

 

éramos treze e todos fumávamos haxixe. nenhum de nós pretendia ser apóstolo, apenas de vez em quando

subíamos à copa das árvores e voávamos sobre o tejo.

repartíamos cada migalha, cada pedacinho

e bebíamos uísque, de sacavém.

o tejo, era um monstro vestido de paneleiros, e de putos

em busca do tempo perdido e de alguns trocos.

líamos o medo de al berto, e um de nós deitava as cartas, adivinhava-nos o futuro depois,

do tejo se extinguir na madrugada.

eu que ia ser cacilheiro, e teria muito sucesso

entre margens; hoje, hoje apenas tenho na mão, o medo. de al berto.

éramos treze, e hoje, hoje somos apenas poucos, para tantas travessias…

 

O boi nunca entendeu porque tinha cornos. Olhava para ela, a vaca, que não tinha

Cornos.

O boi passava noites a questionar-se:

Será que deus se esqueceu de dar cornos, às vacas?

Seria deus assim tão incompetente, deixando coisas assim por fazer?

Ao deus, dará?

Não sou boi. Não tenho cornos. E tal como o boi, passo noites, a questionar-me: porque será, que a cada vez que penso em ti, uma estrela se extingue no universo!

 

são as palavras, meu amor

já não tenho palavras, não tenho amor

tenho alguns cigarros para fumar

estou impacientemente para terminar os livros que quero ler

como se esta noite fosse a minha última noite.

como se estes livros fossem os meus últimos livros de leitura.

tenho insónias. quase não durmo.

e no entanto,

sou feliz assim.

 

são as palavras, meu amor, coisa nenhuma

que não há amor nenhum,

nem há palavras.

 

há caracóis, há percevejos diplomados, há moscas embriagadas,

há pedras, tão pedras como as pedradas.

há música, há literatura e há poesia

e há uísque, 

mas não há sossego a cada dia.

 

faltam-me as palavras.

não tenho a quem enviar palavras, e já me lembrei de fazer uma lápide a cada jazigo sem lápide.

tinha muito onde escrever…

palavras.