sábado, 18 de fevereiro de 2023

Estrelas

 Não me procures dentro deste buraco frio e escuro,

Onde habitam todas as estrelas em papel…

Estrelas que a minha mãe fazia,

Estrelas…

Que me oferecia,

 

Estrelas que arderam,

Labaredas de sono

No olhar de todos os Planetas,

 

Estrelas azuis,

Amarelas,

Estrelas encarnadas…

Da cor

Da dor,

Estrelas que deixaram de ser estrelas,

Nas mãos de uma flor,

 

Não me procures dentro deste buraco,

Frio,

Escuro,

Onde habitam estrelas;

As estrelas que odeio.

 

 

 

Alijó, 18/02/2023

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Noite ternurenta entre estrelas

 (ao meu filho Addendum Díodo de Zener)

 

 

Cai sobre o silêncio

O dente recto das primeiras chuvas da manhã,

Cai na tua mão, menino Addendum Díodo de Zener,

As palavras envenenadas que o teu pai semeia no vento,

 

Vêm a ti, meu pobre menino,

As estrelas em papel que o destino lançou sobre o mar,

Do teu mar tímido,

Do pequeno desenho tridimensional…

Onde dormem as Princesas,

 

E do Castelo com vista para a planície,

Onde brincam amendoeiras e abelhas,

Um pedaço de luar,

Muito sonolento…

Acaba de acordar,

 

E cai em ti,

Meu menino,

A primeira estrela em papel,

Onde o teu pai,

Escreve cartas ao silêncio.

 

 

 

Alijó, 15/02/2023

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Poema inverso do verso poema

 O inverso dos teus lábios

No meu peito em pequenos quadrados,

Círculos de sono,

Invisíveis luares,

Quando a janela do teu olhar

Se esconde na minha mão,

 

Inverso

No verso que deixo no teu cabelo,

Palavras vaiadas,

Palavras minhas nas tuas madrugadas…

 

O inverso dos teus lábios,

Em meus beijos desenhados,

Em pequenos quadrados,

Quadrados entre corpos nus,

 

O teu,

Nu corpo das noites junto ao rio…

 

O nu

Teu corpo nu,

Dentro de mim,

Na minha mão.

 

 

 

Alijó, 14/02/2023

Francisco Luís Fontinha

domingo, 12 de fevereiro de 2023

Maquinação sonolenta

 Do vosso servo que sou,

Enquanto a luz brinca nos teus lábios,

Ponte para a eternidade,

Sobre o rio que se lamenta…

No esconderijo da saudade,

 

Que vem

E não voltará mais ao castelo,

Nem a esta pobre cidade,

 

Do vosso servo,

Que fui

E sou,

A sombra nocturna das lívidas paredes de xisto,

 

Corro para o mar

E sento-me sobre as ondas do teu cabelo,

Há um barco que me quer levar…

Mas não sei se o meu corpo é uma pedra

Ou uma pequena lágrima de sono,

 

Tão pouco sei…

Se o meu corpo vai aguentar

Esta longa viagem,

 

Do vosso servo,

Que fui

E sou,

 

Deixo-vos a maquinação sonolenta das noites invisíveis.

 

 

 

Alijó, 12/02/2023

Francisco Luís Fontinha

sábado, 11 de fevereiro de 2023

Equação do sono

 Deste sono aleatório,

Equação invisível da paixão,

Teu corpo meu dormitório,

Teu corpo minha canção,

 

Quando o vento se recusa a erguer,

E escreve em tua mão…

Nas palavras de escrever,

As palavras do meu coração,

 

E do poema a voar,

No poema em pedaços de mel,

Teus lábios em mar,

 

Do mar pedestal;

Desta equação escrita no cansado papel…

Um dia, acordará do sono… o teu sono infiel.

 

 

 

Alijó, 11/02/2023

Francisco Luís Fontinha

Madrugadas

 Uma cegonha de luz poisa no teu doce olhar,

Como Cristo suspenso na cruz,
Da cruz onde pincela de lágrimas os teus lábios de mar,

 

E se o teu Deus o permitir,

Quando acordarem as manhãs ensonadas,

As tuas manhãs ensonadas,

Todos os pássaros vão fingir,

Todos os pássaros vão voar…

Voar em tuas madrugadas.

 

 

 

Alijó, 11/02/2023

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Lágrimas de sol

 Abraça-te ao silêncio

Fingido da madrugada,

Abraça-te às primeiras lágrimas de sol…

Enquanto o mar se perde no teu olhar,

 

Abraça-te aos meus lábios,

Viajante lunar das palavras,

Abraça-te aos poemas

E às minhas madrugadas,

 

Abraça-te à minha noite,

Castelo sem janelas,

Abraça-te…

 

Abraça-te à água prometida

Dos sorrisos sem tristeza,

Das pinceladas mãos em desejo,

Abraça-te ao beijo,

No beijo natureza,

Abraça-te sem mais nada,

Porque das primeiras lágrimas de sol…

Nasce a alvorada.

 

 

 

 

Bragança, 10/02/2023

Francisco Luís Fontinha