Perdi as minhas mãos
na seara do medo
e proibiram-me de acariciar os teus
lábios de centeio
quando o teu corpo se veste de bola de
luz
e perde-se na infinita noite,
Ouvi dizer que apareces dentro de um
cubo de vidro
à janela da lua
e o teu corpo mergulhado nas palavras
anoitece no meu peito como se fosse um
pedaço de aço
ou um vulcão em desejo,
Sinto-o dentro da porta da escuridão
os seios metamorfoseados nas esquinas
tristes da cidade
há árvores nos teus olhos cansadas de
viajar
e procuram incessantemente as nuvens de
mar
que deus constrói nos alicerces das
tuas coxas em delírio,
Perdi as minhas mãos
e deixei de sonhar depois de partires
para a infinita madrugada
onde te escondes distraidamente no
espelho das lágrimas voláteis
da mesa onde poisam os livros
embrulhados em poeira
mesuradamente do pavimento da insónia,
Ouvi dizer
que as minhas mãos
(perdi as minhas mãos)
voam sobre a cidade cinzenta na ceara
do medo
nos lábios mordidos pelas sílabas do
poema em dentes de fúria adormecida,
Sinto-os dentro da minha boca
os teus lábios sibilados
em voos nocturnos dentro dos lençóis
do medo
a voz cansada do sexo entra nas fendas
do gesso embainhado pela solidão das horas
e lá fora chovem círculos de luz com
finíssimos sons em gemidos deslocados no tempo,
Perdi as minhas mãos
(e sou tão feliz por te amar das
palavras)
à janela da lua
a viagem sem destino
que um homem sem mãos escreve nos
socalcos de xisto...
(poema não revisto)