quarta-feira, 14 de novembro de 2012
terça-feira, 13 de novembro de 2012
O muro da paixão
Escrevo-me na parede transparente dos
teus lábios
silenciosamente cansados das palavras
suspensas na janela da saudade
ouvem-se os murmúrios dos albatrozes
e a saliva do texto nu sobre a cama de
cinzento vidro
a cidade fervilha nas distantes árvores
de papel invisível
escrevo-me
na parede
dos teus lábios
transparente a noite que absorve os
nossos corpos e tortura-os
nos gemidos dos sexos deitados no poema
escrevo-me
escrevo-me sempre que oiço a tua voz,
ao cair a noite sobre nós
descem da cidade
transeuntes apressadamente fingindo a
felicidade
nas ardósias da tarde
oiço-me quando o espelho de chocolate
derrete nas tuas mãos incisivas
ao cair a noite dentro do quarto
sexta-feira abro-te e escrevo-me na
saliva do texto
palavra por palavra
uivo entre os outros muitos uivos
das perdizes alienadas pelo cansaço da
aldeia
escrevo-me nas tuas coxas que o homem
da guitarra desenhou no muro da paixão,
escrevo-me
escrevo-me no gelo circunflexo do amor
às janelas de longe terminam o cais
das sandálias de couro
ou os barcos no regresso a casa
em abraços
e pouca coisa nas mãos indefesas
nefastas oleadas pelas marés dos rochedos
que a tua boca engole quando me
aproximo da madrugada
escrevo-me no mar
e nas paredes da solidão
crescem as rosas vermelhas
de olhos verdes com luzinhas
cintilantes nas pálpebras de aço
que o homem da guitarra desenhou no
muro da paixão...
(poema não revisto)
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Falso amanhecer
O dissilábico falso amanhecer
à mão de papel
que a noite desencanta
uma rua deserta
pura
alimenta as fissuras de um coração
aos parêntesis desenhados nos teus
olhos roubados pela noite
longe dos oceanos
barcos engasgados no purpuro cabelo do
vento
a alma do falso amanhecer
à mão transversal das paredes do
destino
deus na janela do prazer
e alicerça-se em ti a saudade
como as palavras
como os desenhos invisíveis que a
noite come no veneno do teu sofrimento
pura
alimenta
as fissuras de um coração com sal e
pimenta
coitado de mim tão frágil dentro dos
lençóis da insónia
pura
a alicerça-se
como o poema
dentro de um quarto com fotografias de
corsários
e piratas
governando
não governar
as vaginais cansadas madrugadas
abraçadas ao infinito
desiludidas canções de engate
o Rossio sentado em mim
e sinto-me uma gaivota perdida nas
mamas do dissilábico falso amanhecer
hoje não é sábado
e a livraria está encerrada
o bar paralelepípedo do desejo olha o
Tejo
saltita entre as aranhas da cidade
adentro
um longínquo gemido atravessa a parede
da paixão
hoje não é sábado
e a livraria está encerrada
a farmácia dos sonhos
com os livros de sexta-feira na
algibeira do domingo saudável
desgraçadamente
não é sábado
e nunca acordarão os extintos medos
dos teus braços de mel.
(poema não revisto)
sem estrelas nem árvores apenas o mar e o rio
uma gaivota de sémen mergulha nos
lençóis húmidos da madrugada
quando do clitóris desce o Rossio em
direcção ao rio
das palavras
sento-me apaixonadamente no Jeronymo
(Chiado)
e enrolo-me no café amargo que da mão
da caneta de tinta permanente
escreve “para ti, com amor”...
e um silêncio de noite
entranha-se no novo livro de A. Lobo
Antunes (Não É Meia Noite Quem Quer)
e eu quero
preciso urgentemente que seja sempre
sábado
noite
sem estrelas
nem árvores
apenas o mar
e o rio
apenas tu
com amor
no poético corpo de gelo que a
madrugada me oferece.
(poema não revisto)
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
O transeunte apaixonado
O imperfeito incrédulo transeunte
emagrecido
nas pálpebras azuis do destino
podia acordar a alvorada
e escrever nas paredes cansadas
que as arcadas cadeiras sem focinho
constroem na insignificante janela do
Outono
ai a cidade com um rio travestido de
mar
e o mar
e o mar em engates na maré do silêncio
o amor é o amor
das palavras
e no corpo tua boca em soluços
madrugadas,
o amor amar os barcos em sucata
pedacinhos de aço
nos lábios desejados das ranhuras
frestas do granito jazigo literário
os poemas em festa
orgias
e danças de salão na cave do
eléctrico para Belém
deixando a Ajuda nas águas
transversais adormecidas das gargantas loucas
e eu procuro-te pensando nas árvores
infinitas tuas mãos
abraças-me?
dar-me-ás um beijo invisível com
sabor a chocolate?
abraças-me nas finíssimas argolas de
papel suspensas no tecto da algibeira?
e as vacas do tio Serafim comeram toda
a erva do meu caderno preto,
e dou-me conta que não estou louco
nem doente
estou apaixonado
feliz por ser amado
e é nos momentos que me apetece
adormecer eternamente
que quero amar loucamente os cortinados
loiros dos teus olhos encarnados
(O imperfeito incrédulo transeunte
emagrecido
nas pálpebras azuis do destino
podia acordar a alvorada)
podia adormecer a noite
e todas as lâmpadas se extinguirem nas
sombras da calçada
porque eu não me importo que chovam as
palavras que a cidade transpira,
não me importo das vacas do tio
Serafim
nem dos livros ainda não escritos
e dos poemas que apenas fazem parte do
teu ventre lilás de sílaba acácia
que os dias mortos desenham na areia
não me importo da chuva
e do vento sem vento fingindo ser vento
porque a paixão come a erva do meu
caderno preto
perco todas as palavras semeadas na
Primavera
perco as gaivotas melancólicas do Tejo
enjoado
também ele apaixonado
pelas pequenas flores que os barcos
transportam
e deixam abandonadas no fundo oceano o
desejo construído com os insectos...
(poema não revisto)
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