segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
Amor às palavras
Nunca me abraçaste
Nem gostas dos meus poemas
Detestas os rios que correm para o mar
E dizes que sou louco
E não o dizes mas talvez o penses – (não serves para nada
E não passas de um mendigo que vagueia dentro da noite)
Nunca me abraçaste
E deves pensar que o meu rosto é uma rocha
Ou um pedacinho de madeira abandonada
Quando chove e à janela do asilo peço ajuda
E fingem não me ouvir
E fingem não me ver
Nunca me abraçaste
E restam-me os ramos das árvores
Onde escrevo os poemas
Que detestas e odeias
E sou um mendigo que vagueia dentro da noite
Tenho rosto e tenho mãos
E às vezes descem as lágrimas da copa das árvores
E alimentam o meu sorriso adormecido
Numa folha de papel meia dúzia de palavras
Que copiei dos ramos das árvores que tu tanto odeias
Tenho rosto e tenho mãos
E amo loucamente as minhas palavras.
Nem gostas dos meus poemas
Detestas os rios que correm para o mar
E dizes que sou louco
E não o dizes mas talvez o penses – (não serves para nada
E não passas de um mendigo que vagueia dentro da noite)
Nunca me abraçaste
E deves pensar que o meu rosto é uma rocha
Ou um pedacinho de madeira abandonada
Quando chove e à janela do asilo peço ajuda
E fingem não me ouvir
E fingem não me ver
Nunca me abraçaste
E restam-me os ramos das árvores
Onde escrevo os poemas
Que detestas e odeias
E sou um mendigo que vagueia dentro da noite
Tenho rosto e tenho mãos
E às vezes descem as lágrimas da copa das árvores
E alimentam o meu sorriso adormecido
Numa folha de papel meia dúzia de palavras
Que copiei dos ramos das árvores que tu tanto odeias
Tenho rosto e tenho mãos
E amo loucamente as minhas palavras.
domingo, 5 de fevereiro de 2012
Rimas imaginárias
Os amigos não se amam
Desejam-se infinitamente na escuridão da noite
Debaixo de uma árvore um banco de jardim
Mergulha na solidão da tarde
Os amigos escrevem poemas num rio inventado
Que corre entre as montanhas e desaparece no mar
Os amigos não se amam
Desejam-se infinitamente na escuridão da noite
Quando o poema cresce num largo de paralelepípedos
E debaixo de uma árvore um banco de jardim
Encostado ao púbis das sílabas e fios de silêncio…
O poema em orgasmos transpira as rimas imaginárias
E os amigos
Deslaçam as mãos e despendem-se na promessa de um novo reencontro
Desejam-se infinitamente na escuridão da noite
Debaixo de uma árvore um banco de jardim
Mergulha na solidão da tarde
Os amigos escrevem poemas num rio inventado
Que corre entre as montanhas e desaparece no mar
Os amigos não se amam
Desejam-se infinitamente na escuridão da noite
Quando o poema cresce num largo de paralelepípedos
E debaixo de uma árvore um banco de jardim
Encostado ao púbis das sílabas e fios de silêncio…
O poema em orgasmos transpira as rimas imaginárias
E os amigos
Deslaçam as mãos e despendem-se na promessa de um novo reencontro
O sonho de uma noite de geada
Desiludo-me com a vida com o amor e todas as ruas da cidade, e todas as árvores e todos os bancos do jardim, desiludo-me quando acorda a manhã e percebo que vou ter um dia perfeitamente parvo igual ao anterior, desiludo-me quando me olho no espelho da noite e vejo um menino deitado no chão, o frio é intenso, a maioria das vidraças estilhaçadas, e a porta de entrada apenas encostada e prisioneira de um cordel,
- Tenho medo de amar-te sabendo que nunca me vais amar E ela descia as escadas sem dizer até amanhã, e ela descia as escadas depois de a minha mãe aquecer água e depois de amaciar os lancis de granito e a geada começava a andar calçada abaixo e desaparecia junto ao chafariz,
Desiludo-me com a vida com o amor e todas as ruas da cidade, e todas as gaivotas e todos os barcos estacionados no Tejo, desiludo-me com a minha vida miserável, e ela descia as escadas e desaparecia em direção ao Tejo,
- Há dias felizes Nunca se cansa de gritar o vendedor de cautelas,
E há dias de merda e há dias embrulhados nas prateleiras do pôr-do-sol, e há os meus dias, quando a fome entra no meu corpo, quando as lágrimas fingem brincar na minha mão, quando me dizes que me amas, e eu, e eu percebo que nunca me amarás porque sou um miserável, porque nem dinheiro tenho para um café ou convidar-te,
- Vamos jantar?
E o jantar sobre uma mesa de mármore na morgue de um velho edifício em ruinas, desiludo-me com a primavera e com o acordar das andorinhas, desces as escadas e tropeças na geada, desces as escadas e eu sem tempo para te abraçar, e eu, todas as árvores e todos os bancos do jardim, desiludo-me quando acorda a manhã e percebo que vou ter um dia perfeitamente parvo igual ao anterior, e eu agachado no pavimento lamacento agarrado a um livro de António Lobo Antunes, a comissão das lágrimas sentada na baía de Luanda ao final da tarde,
- Vamos jantar?
E eu sem dinheiro para lhe oferecer o jantar, e eu sem dinheiro para a presentear com um simples ramo de flores,
- Tenho medo de amar-te sabendo que nunca me vais amar E ela descia as escadas sem dizer até amanhã, e ela descia as
O frio intenso e as vidraças encostadas às sombras da noite, não cama, não cobertores,
- Escadas e desaparecia no Tejo,
E pergunto-me
- Um petroleiro meu amor,
E pergunto-me Porquê pai?
E um dia vais perceber que tudo não passou de um sonho, tudo meu amor, a minha voz impressa na ardósia do fim de tarde junto aos plátanos, as vidraças meu amor, tudo um sonho construído numa noite de geada.
(texto de ficção)
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