sexta-feira, 28 de março de 2014

O inútil perpendicular


Sinto-me um inútil perpendicular ao cateto do teu desejo,
sei que através do cosseno do teu olhar, existe vida, sonhos, flores triangulares,
sinto-me uma equação diferencial sem resolução,
uma parábola suspensa nos teus seios de diamante lapidado, ferido pela directriz dos teus lábios,
sei que sim, sei que sou um panfleto embebido na paixão...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 28 de Março de 2014

quinta-feira, 27 de março de 2014

o sonho aos teus braços

foto de: A&M ART and Photos

do silêncio habitado que consome o teu cansado perfume
a alga minha suspensa no amanhecer teu
do silêncio amargurado que constrói moinhos de vento
eu oiço os teus argamassados gemidos
tristes

tristes tão tristes que a chuva acorrenta o sonho aos teus braços
do silêncio
o teu nosso silêncio...
o mar que engole os rochedos da paixão
e...

e de nada serve gritar pelo amor das árvores e das palavras
nuas
as tuas
as tuas mãos poisadas em mim
que não pertenço aos teus cabelos de mel


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 27 de Março de 2014

quarta-feira, 26 de março de 2014

Os cadeados invisíveis do desejo


Dizes-me que a noite é uma construção em néon adormecido,
vives pedindo-me palavras, vives... regateando silêncios entre carris de aço,
dizes-me que sou um cadáver embriagado,
triste... triste e sem cansaço,
sem o cansaço pedestal do azoto,

Dizes-me que amanhã não há paixão,
que todos os rios são solitários e casmurros, e... e sem mãos para as caricias do amanhecer,
sinto-te embalada no gatilho do incenso coração,
sem a espingarda neblina teu olhar, sem... sem flores a envelhecer,
e mesmo assim, dizes-me que sou um transeunte envenenado pela solidão,

Dizes-me que sou a tua nuvem colorida,
mas apenas o dizes quando te convém,
dizes-me que na madrugada nua...
não há nada, nada, nem ninguém,
porque me dizes ser eu uma estrela de algodão?

Dizes-me que não entendo os teus lábios em puro cristal,
que sou desastrado, ingénuo... que sou um falhado,
que sou o teu livro do mal...
como petroleiros da insónia esperando o marinheiro apaixonado,
como o triste vagabundo... no Inferno da cidade dos canibais,

Dizes-me que a noite é uma construção em néon adormecido,
pergunto-te se nos teus seios habitam jasmins, amoreiras... rosas encarnadas,
respondes-me que não, e dizes-me que há em ti o sorriso envelhecido,
como gelatina encaixotada nas janelas desalmadas,
e depois, depois... desapareces entre as rochas e os cadeados invisíveis do desejo.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 26 de Março de 2014