quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Janela de esqueletos

foto de: A&M ART and Photos

Parecemos esplanadas de vento correndo nos algerozes das montanhas abandonadas,
penso se não existirá dentro de nós a melancolia dos barcos apodrecidos, como ossos molhados, como corpos cansados, como eu, e como tu, dois ventres desventrados, amorfos, humildes como sanzalas de granito, vadios...
parecemos dois loucos escondidos na sombra da madrugada ainda não nascida,
perdidos nas palavras ainda por escrever...
olhamos as estrelas que deixaram de brilhar,
comemos o pão como quem come a sombra de uma árvore...
indolor, infestados de giz depois do recreio escolar,
tu, e eu, debaixo de um busto sem nome,

Correndo, brincando... enganando a fome...
correndo, correndo calçada abaixo, até que acordava o dia, até que da tua bocas eu sentia a tristeza dos perdidos calendários de Fevereiro,
o medo,
o medo das clandestinas vozes da escuridão,
e no entanto,
sem o sabermos,
inventávamos estórias de adormecer,
sem o sabermos... estávamos mortos numa janela de esqueletos.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 12 de Fevereiro de 2014

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A estrada

foto de: A&M ART and Photos

As dízimas lâmpadas da paixão dançando nas ruas húmidas do silêncio,
um verso que chora, triste, adormece,
um verso cansado da noite, sonha, foge...
as dízimas lâmpadas..., sentem-se nos longínquos livros com desenhos para pintar,
e tu criança, e eu menino,
sós esperando o regresso da velha estrada...


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 11 de Fevereiro de 2014

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Quatro esquinas de paixão

foto de: A&M ART and Photos

A face oculta do silêncio entre quatro esquinas de paixão,
o sofrimento que cresce, que dorme... que alimenta o cansaço do triste Inverno,
as três pedras da literatura que habitam sobre ti como rios indomáveis, doentes...
como solidões prisioneiras nas árvores do medo,
a face da maré envenenada quando os peixes voam na cidade do inferno,
quando o vento bate na tua janela e cedo percebes que a madrugada não existe,
que ela não é mais do que uma sílaba tonta nos lábios de um homem de palha molhada,
que hoje me sinto tão cansado... que perdi a minha face na lareira do fim de tarde,

A face tua que me deixa nas penumbras luzes dos holofotes de areia,
a palavra não dita,
esquecida,
a palavra maldita que transportas na tua boca...

Que hoje, hoje pareço um farrapo mergulhado em fenol...

A face planície das gaivotas de porcelana,
às tuas mãos o distante caminho da esperança,
acreditas,
e fazes-me acreditar nos lençóis de amianto,
nas flores em papel crepe,
no orvalho,
e na geada envelhecida das noites sem poesia,
e o poema morre nos teus olhos de vidro...


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2014