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foto: A&M ART and Photos
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Disseram-me se subisse a montanha eu ganhava o sono
eterno, o morcego de prata que alimenta as noites de luar e estrelas
em queda, anjos de gravata às gargalhadas pela plateia dos sonhos,
onde estão sentados
(meninas, meninos, senhoras, homens e donzelas de
extrema beleza, também tenho de reconhecer que perdi a paciência
quando me dizem – Sistema fora de serviço, obrigado, seremos
breves – e as meninas e os meninos e as senhoras e os homens e as
donzelas prateadas, sentados, sentadas, numa cadeira de praia à
espera que o palco da vida regresse das planícies de madeira
coloridas com carpetes de veludo, vermelho, verde e cinzento, como os
dias e as noites, depois de partirem as embarcações com velas
bordadas por tais donzelas, ou são belas, ou... velas de estearina
no altar da pureza e da digna virgindade do palhaço com três pernas
e quatro braços, em pura madeira virgem, como a lã das camisolas
com formato de cubo sem portas, ou janelas, salgadeira que hoje não
se utiliza, que hoje nem para guardar o farinha de milho serve, a
dita caixa de madeira, depois tínhamos um forno no quintal onde
cozíamos o saboroso pão de milho, e hoje, todos e todas, morreram
como morreram as amêndoas em flor)
Os palhaços, onde estão sentadas enxadas com unhas
de gel e a depilação a laser, mais à frente, o engraçado do
engaço ou ancinho ou pente para pentear as ervas ornamentais dos
segredos depois de ultrapassarmos o muro, um buraco, tantos buracos
sem gente, vazios, gira a cabeça, rodopia na cadeira, e enterra os
cornos no estrume que alimenta as plantinhas e os anzóis comestíveis
das galinhas de perdão perplexo, sinto frio quando converso com as
janelas do insignificante desumidificador, e mesmo assim ainda há
quem me queria convencer que tudo à minha volta não é verdadeiro,
dizem-me – É apenas um visão – finjo que acredito, digo que
sim, com o fiz quando queriam que eu subisse para cima do palco e
metesse a minha mão dentro da boca de um tigre – Era o metias –
não o posso fazer e perguntam-me – Porquê? - por nada... apenas
porque sou alérgico ao pêlo do tigre, nada mais, e apenas isso,
(em pequenos quadrados cerâmicos o meu corpo
alicerça-se e cresce em direcção à montanha)
“Disseram-me se subisse a montanha eu ganhava o
sono eterno, o morcego de prata que alimenta as noites de luar e
estrelas em queda, anjos de gravata às gargalhadas pela plateia dos
sonhos, onde estão sentados”
(e depois voou sem saber que havia nevoeiro e pouca
ou nenhuma visibilidade, desapareceu dos radares, e hoje perguntamos
o que terá acontecido ao morcego prateado, que alimentava as noites
e os dias, as horas e os minutos, e apenas do interior do clarão da
Cinderela apaixonada pelo ilustre visitante da Ilha dos rochedos,
nunca mais, nem a enxada com as suas unhas de gel, nem o engaço ou
ancinho ou pente para pentear as ervas ornamentais dos segredos
depois de ultrapassarmos o muro, um buraco, tantos buracos sem gente,
vazios, gira a cabeça, rodopia na cadeira, e enterra os cornos no
estrume que alimenta as plantinhas e os anzóis comestíveis das
galinhas de perdão perplexo, sinto frio quando converso com as
janelas do insignificante desumidificador, e mesmo assim ainda há
quem me queria convencer que tudo à minha volta não é verdadeiro,
dizem-me – É apenas um visão – finjo que acredito, foram vistos
e avistados por estas paragens)
O burro puxa ordeiramente a carroça da miséria,
elas, a carroça e a miséria, correm apressadamente quando são
perseguidas pelas autoridades fiscalizadoras, a carroça não cumpre
as normas Europeias de segurança Rodoviária e a Miséria é
inconstitucional, ou não
(despeço-me com amizade, fraternidade e
sinceridade, de quem ainda acredita na paciência humana, mas às
vezes, como o leito dos rios, é ultrapassado o limite, e a água vai
onde não deveria ir...)
E a paciência escorre calçada abaixo, ouvem-se os
gritos dos vidros acabados de partir..., e mesmo assim, o grandioso
espectáculo não é interrompido, os palhaços sobre uma bicicleta
de arame voam sobre as cabeças ocas das sandália que também elas,
como as unhas de gel, saltitam entre gargalhadas e sorrisos, o
apresentador queixa-se-me que não me compreende, que não percebe o
que escrevo, que não escrevo, queixa-se-me como se eu me importasse
com a sua opinião, sua, dele, o apresentador do maior espectáculo
do Mundo – O Circo? - nem mais, meu filho, do Circo...,
(vou-me embora)
E quando acordo, sinto um casal de pulgas amestradas
em cima do meu ombro; foi a noite mais feliz da minha curta vida.
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha